Justiça

Fraude fiscal: defesa de Mário Ferreira diz que acusação "desafia bom senso e lógica"

Mário Ferreira foi um dos seis tripulantes da 22.ª missão da New Shepard
Mário Ferreira foi um dos seis tripulantes da 22.ª missão da New Shepard
D.R.

Defesa diz que, "inexplicavelmente", a Autoridade Tributária e o MP "foram incapazes de arquivar o processo-crime na sua totalidade, como era justo e devido", tendo agora "confrontado" o seu constituinte com uma acusação por fraude fiscal em sede de IRS

A defesa de Mário Ferreira considerou esta quarta-feira que, "além de factual e legalmente infundada", a acusação do Ministério Público (MP) contra o empresário por fraude fiscal "desafia o bom senso e a lógica", seguindo o processo diretamente para julgamento.

O MP acusou Mário Ferreira, que detém o grupo Mystic Invest, dono da Douro Azul, de fraude fiscal qualificada, alegadamente cometida na venda do navio Atlântida, em 2015, a uma sociedade constituída em Malta, através de um suposto esquema societário, que permitiu ao empresário portuense obter supostamente ganhos "ilegítimos" em sede de IRS superiores a um milhão de euros.

"Além de factual e legalmente infundada, esta acusação desafia o bom senso e a lógica das coisas, o que não deixará de se demonstrar na sede própria: o julgamento. E é para esta esclarecedora e derradeira fase do processo que o nosso constituinte pretende ir de imediato, renunciando à instrução", referem Rui Patrício, Tiago Félix da Costa e José Maria Montenegro, advogados do empresário portuense que assinam uma reação conjunta envida à agência Lusa.

A defesa do empresário diz que a venda do Atlântida foi investigada pelo MP em, pelo menos, três processos-crime, estando em causa a alegada prática dos crimes de corrupção passiva e ativa, participação económica em negócio, administração danosa, branqueamento de capitais e fraude fiscal.

"Foram precisos nove longos anos para repor a verdade. Nove anos volvidos e, depois de tudo investigado até ao mais ínfimo detalhe, revelou-se finalmente que a infame suspeita da prática de crimes de corrupção passiva e ativa, participação económica em negócio e administração danosa, não tinham o mínimo fundamento e foram devidamente arquivadas pelo Ministério Público", lembram os advogados.

A defesa diz que, "inexplicavelmente", a Autoridade Tributária (AT) e o MP "foram incapazes de arquivar o processo-crime na sua totalidade, como era justo e devido", tendo agora "confrontado" o seu constituinte com uma acusação por fraude fiscal em sede de IRS.

"Esta acusação constitui o paradigma do que se vive algumas vezes na justiça em Portugal. A manifesta falta de coragem em reconhecer a total ausência de indícios e arquivar pura e simplesmente um processo mediático, insistindo-se, neste caso, numa última, única e irrelevante acusação sem fundamento, uma vez que, na pior das hipóteses, o que está em causa são divergências técnicas entre um contribuinte e a administração fiscal", sustentam os advogados.

Segundo a defesa do atual proprietário do grupo Media Capital, que detém a TVI, "sobra, agora a ideia de fraude pelo não-pagamento de IRS sobre resultados não distribuídos (IRS esse todo pago ao longo dos anos)", e um pedido de indemnização de 110 mil euros "só de juros, reportados a um momento em que a própria sociedade ainda não sabia do seu resultado".

"Seja como for, confrontado com esta infundada narrativa sobrante da AT e do Ministério Público a respeito do seu IRS (afinal, apenas e só sobre o IRS), o nosso constituinte, mesmo contra todos os pareceres técnicos, e voluntariamente, liquidou já na íntegra o montante do imposto e juros em causa e agora reclamado pela AT", lê-se no comunicado.

Os advogados lamentam que, "nem depois de arquivar todas as suspeitas de corrupção passiva e ativa, participação económica em negócio, administração danosa e branqueamento de capitais", o MP "se convenceu de que Mário Ferreira nunca teve, nem tem, qualquer intenção de se furtar ao pagamento de qualquer imposto". "E que a operação em causa foi fruto de vicissitudes várias em nada relacionadas com questões fiscais, mas sim de uma campanha persecutória executada e amplamente publicitada por parte, pelo menos, da comentadora Ana Gomes", acusam.

Para o MP, em causa está a venda do navio Atlântida, "através da interposição de uma estrutura societária constituída em Malta, que teve por objetivo ocultar os reais valores da venda e evitar a sua sujeição a tributação em Portugal".

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