Justiça

Combate à corrupção: ministra da Justiça quer aprofundar mecanismos de colaboração dos denunciantes

Combate à corrupção: ministra da Justiça quer aprofundar mecanismos de colaboração dos denunciantes
ANTÓNIO COTRIM

"É um tema que vai ser analisado. Eu gostaria que fosse possível ir um pouco mais longe", disse Rita Júdice, secundando as palavras do procurador-geral da República, Amadeu Guerra

A ministra da Justiça admitiu aprofundar na lei os mecanismos de direito premial, que o procurador-geral da República, Amadeu Guerra, voltou hoje a apontar como um caminho para aumentar a eficácia do combate à corrupção.

À saída da sessão de abertura numa conferência na sede da Polícia Judiciária (PJ) dedicada ao combate à corrupção, Rita Alarcão Júdice disse que o mecanismo de direito premial é uma das matérias a trabalhar no âmbito da agenda anticorrupção do Governo e do grupo de trabalho dedicado ao direito penal a ser criado em janeiro.

"Não queremos preparar soluções que sejam feitas em cima do joelho, queremos soluções que sejam sólidas, que passem nos crivos judiciais e também constitucionais e por isso queremos dar a melhor solução possível e as melhores soluções possíveis precisam de tempo" para serem "à prova de bala", disse.

"É um tema que vai ser analisado. Eu gostaria que fosse possível ir um pouco mais longe, é essa a nossa intenção. Há um equilíbrio que tem de ser encontrado e é esse equilíbrio que vai ser estudado e procurado. Não deitemos fora o bebé com a água do banho", disse a ministra.

Na sessão de abertura, Amadeu Guerra repetiu grande parte das ideias e do discurso feito na segunda-feira nas comemorações do Dia Internacional contra a Corrupção, na Marinha Grande (Leiria), onde já tinha considerado que os mecanismos de deteção da corrupção estão mais eficazes, mas "ainda longe de ser perfeitos", defendendo que a eficácia no combate pode aumentar com a colaboração dos denunciantes.

"Os mecanismos de exceção previstos na lei para estes casos devem constituir um estímulo efetivo à colaboração dos arguidos através de comportamentos reparadores ou através de uma colaboração probatória. Será ainda desejável que a aplicação das soluções legais existentes ao nível do direito premial fossem mais utilizadas com a finalidade de assegurar o efetivo incentivo à denúncia do crime, a colaboração para a descoberta da verdade, a reparação dos efeitos do crime", disse hoje o procurador-geral da República.

Amadeu Guerra apelou a que este mecanismo legal seja mais publicitado, para que seja mais conhecido pela comunidade e com isso se possa retirar "vantagens no que diz respeito à investigação criminal".

A ministra da Justiça anunciou ainda que o Governo vai na quinta-feira aprovar em Conselho de Ministros um diploma para regular o uso de embarcações de alta velocidade, as chamadas lanchas rápidas, frequentemente utilizadas no tráfico de droga internacional e detetadas pelas autoridades portuguesas junto à costa nacional.

"Há um diploma que vem regulamentar e criminalizar alguns comportamentos. O tráfico através de lanchas rápidas passa aqui à porta de Portugal. O que nós quisemos fazer foi criminalizar condutas e também aumentar coimas, aumentar a um maior rigor nos registos das lanchas para que possa haver maior controlo e apreensão das lanchas, se for caso disso", disse a ministra aos jornalistas.

Questionada sobre o processo Operação Marquês, Rita Alarcão Júdice não quis fazer comentários concretos sobre o julgamento, ainda sem data marcada, mas não deixou de notar "por parte da magistratura um acordar e uma vontade de dar maior celeridade aos processos, também a este", sublinhando que isso é algo que a "agrada como ministra da Justiça".

Também em declarações aos jornalistas no final da sessão de abertura, o diretor nacional da PJ, Luís Neves, referiu-se à confirmação da condenação a uma pena de prisão efetiva do militante neonazi Mário Machado por incitamento ao ódio e à violência como "uma recompensa" ao trabalho de investigação daquela polícia.

"É uma decisão do ponto de vista jurídico, da investigação criminal e do ponto de vista humano que nos dá grande conforto", disse, lembrando que a condenação vem na sequência de "um longo historial" de crimes cometidos pelo arguido.

E recordou tratar-se de "crimes de ódio, de incitamento à violência, designadamente perante mulheres que eram expostas, mulheres só porque pertencem a estruturas políticas de esquerda. Isso é absolutamente inadmissível".

"Nós fizemos o nosso trabalho, conseguimos identificar os suspeitos que estavam por trás disto, ao fim ao cabo é para nós a única recompensa que estas vítimas que viveram aterrorizadas durante demasiado tempo têm, com base no nosso trabalho. Por isso, quero dizer em nome dos valores humanistas que subjazem à nossa atividade que esta é a maior recompensa para nós, é ter um resultado em que as vítimas ficam salvaguardadas", concluiu.

O Tribunal da Relação de Lisboa confirmou a condenação do militante neonazi Mário Machado a uma pena de prisão efetiva de dois anos e 10 meses por um crime de discriminação e incitamento ao ódio e à violência.

Em causa está o processo em que Mário Machado e Ricardo Pais, o outro arguido no caso, foram condenados por crimes de discriminação e incitamento ao ódio e à violência por publicações em redes sociais, nas quais o tribunal de julgamento deu como provado terem apelado ao ódio e à violência contra mulheres de esquerda que visaram em particular a professora e então dirigente do Movimento Alternativa Socialista (MAS) Renata Cambra.

Em julgamento neste processo estiveram mensagens publicadas no antigo Twitter (atual X), atribuídas a Mário Machado e Ricardo Pais, em que estes apelavam à "prostituição forçada" das mulheres dos partidos de esquerda, e que visaram em particular Renata Cambra.

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