A Polícia Judiciária realizou esta manhã de quarta-feira buscas na Câmara de Cascais por suspeitas relacionadas com uma fábrica de máscaras cirúrgicas criada para a covid-19. A notícia, avançada pela revista Sábado, foi confirmada pelo Expresso por fonte oficial daquela polícia: “A PJ confirma as buscas na câmara de Cascais para recolha de informação."
Fonte da autarquia também confirmou as buscas policiais. “A PJ esteve na Câmara na manhã de quarta feira e levaram tudo o que entenderam.” De acordo com a mesma fonte, não terão sido constituídos arguidos. “Fomos a única câmara a produzir máscaras e a distribui-las gratuitamente pelos munícipes.” A mesma fonte diz desconhecer a existência de “qualquer denúncia” e também “não” sabe quais são “as suspeitas que motivaram as buscas”.
Em causa estão suspeitas sobre a fábrica de máscaras para a covid-19, criada em meados de 2020 com um investimento inicial de 800 mil euros para a aquisição de duas máquinas importadas da China e para as obras do edifício, num negócio em que o então vice-presidente da câmara, Miguel Pinto Luz, que agora é o ministro das infraestruturas e da habitação, deu a cara.
Na altura, à agência Lusa, Pinto Luz afirmou: "Tínhamos de combater na linha da frente este flagelo [da covid-19]. Esse combate faz-se com meios, e esta iniciativa surge porque o preço das máscaras estava a valores completamente incomportáveis, que nunca antes tinham sido atingidos. Por isso, sentimos a necessidade de dar um passo em frente e montar uma fábrica de produção de máscaras cirúrgicas certificadas.”
Em junho de 2020, a autarquia estimava produzir, por mês, cinco milhões de unidades deste equipamento de proteção pessoal. Naquela altura, foram colocados dispensadores de máscaras pelo concelho de Cascais, que permitiam a qualquer pessoa adquirir uma embalagem com quatro unidades por um euro.
Um ano depois, a câmara anunciava que já tinham sido entregues à população 17 milhões de máscaras gratuitas.
Em janeiro de 2023, o “Público” revelou que a autarquia vendeu três imóveis (dois armazéns e um terreno) a preço de custo à empresa chinesa com quem tinha parceria para fabricar máscaras anti covid-19. Segundo aquele jornal, o Tribunal de Contas (TdC), que fez uma auditoria para apuramento de responsabilidades financeiras, concluiu que o negócio não foi transparente, nem devidamente justificado, mas os membros do executivo camarário não podem ser responsabilizados.
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