“O processo de apuramento de alunos sem aulas em vigor não permite apurar com exatidão o número de alunos sem aulas”, revela a carta de acompanhamento do relatório da auditora KPMG, empresa que, a pedido do Ministério da Educação, ficou de avaliar se era possível ter dados fidedignos sobre o número de estudantes que nos dois últimos anos letivos tinham estado sem professor a pelo menos uma disciplina.
A auditoria externa identificou “um conjunto de lacunas e insuficiências que põem em causa a solidez dos dados reportados pela Direção-Geral dos Estabelecimentos Escolares (DGEstE), referente ao número de alunos sem aulas a uma disciplina".
A análise revela ainda que o processo em vigor assenta num sistema sem “rastreabilidade”, dependente de ajustamentos informais que potenciam o risco de erro, que pode atingir 50% dos alunos reportados como ‘sem aulas‘”. Estas correções são realizadas “maioritariamente por contactos telefónicos” e não estão sujeitas a “qualquer processo que documente a revisão/aprovação”, o que compromete a fiabilidade dos dados e impede a sua verificação independente.
Foram ainda identificadas “diversas omissões e discrepâncias entre a Nota Metodológica e o processo em vigor”, incluindo alterações nos critérios de apuramento e na forma de acompanhamento da informação, o que compromete “a comparabilidade do número de alunos sem aulas a uma disciplina entre 2023/2024 e 2024/2025”. Além disso, é impossível aferir “o número total da população estudantil por distritos, agrupamentos e/ou escolas”.
Polémica com os números
O que a auditoria da KPMG mostra agora é que nenhum responsável conseguia apresentar os números rigorosos, porque o sistema não permite uma contabilização "fiável".
Como recomendação, a auditoria sugere a implementação de um sistema que "permita recolher de forma tempestiva e centralizada, diretamente das escolas" informação sobre a evolução do numero de alunos sem aulas, através, por exemplo, da "recolha e compilação dos sumários das aulas" existentes em suporte eletrónico, para além da “definição formal de mecanismos de controlo e verificação dos dados apurados e a identificação das entidades e/ou responsáveis pela sua execução”.
O Ministério da Educação diz que irá implementar este mecanismo a partir do próximo ano letivo para que seja possível "monitorizar com rigor, credibilidade e transparência o número de alunos sem aulas, a cada disciplina, em diferentes momentos e ao longo do ano letivo", informação que a tutela considera "essencial para adotar medidas" para minimizar este problema.
Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: cbarros@expresso.impresa.pt