25 janeiro 2022 18:32
No Hospital de São João, no Porto, em cada dez doentes internados positivos para a SARS-CoV-2, só três foram internados por causa da covid-19. No Santo António, são cerca de metade. Não têm doença, só infeção. Mas precisam de isolamento próprio
25 janeiro 2022 18:32
A maioria de internados infetados pelo SARS-CoV-2, em dois dos maiores hospitais do norte do país, não tem doença covid-19.
Apesar de no boletim diário da DGS serem apenas assinalados os internamentos cujas pessoas testaram positivo ao vírus – e não os que, desses, têm doença e sintomas dela -, no Hospital de São João e no de Santo António, ambos localizados no Porto, a maior parte da nova população hospitalar “é internada com este vírus e não por causa do vírus”, revela José Artur Paiva, diretor do serviço de Medicina Intensiva do Hospital de São João.
Neste hospital, dos 114 doentes SARS-CoV-2 positivos à data desta segunda-feira, só 34 deram entrada naquele hospital por terem sintomas de covid-19 a precisarem de cuidados médicos. Destes, 20 encontram-se internados em enfermaria e 14 em serviços de Medicina Intensiva.
“Tudo o resto são pessoas que tiveram um acidente de automóvel, por exemplo, ou um AVC ou um enfarte do miocardio. Ou então doentes que fizeram uma cirurgia e que no teste à admissão deram negativo mas dois dias depois positivaram”, explicou ao Expresso o diretor do serviço de Doenças Infecciosas do Hospital de São João, António Sarmento.
No caso do Hospital de Santo António (CHUP), esta percentagem reduz para 54% mas continuam a ser maioria os casos de internados positivos cujos internamentos se deveram a outras causas. Segundo dados que o hospital do Porto divulgou ao Expresso, de um total de 84 doentes positivos para o SARS-CoV-2, só 39 pessoas foram internadas por conta da covid-19 (nove delas encontram-se em Cuidados Intensivos). Das restantes, algumas pessoas testaram positivo na sequência da entrada nas urgências por outra doença e outras positivaram depois de uma cirurgia.
Com a mais intensa transmissão comunitária desde o início da pandemia, os hospitais do norte do país sentem a chegada de “muitos casos assintomáticos”, muitas vezes apenas detetados pelo rastreio obrigatório à entrada das urgências, que acontece nos hospitais.
Nas palavras de José Artur Paiva, “a fatia de casos graves ocorre fundamentalmente na fina franja de pessoas que não se vacinaram e noutra franja, a de pessoas que, apesar de terem feito a vacinação, têm doenças que lhes limitam a função imunológica”.
E acrescenta: “sendo este o panorama, dizermos que os hospitais têm muito mais doentes e estão muito mais sobrecarregados, tem de ser visto com parcimónia. Como não temos nenhuma evidência de que ser portador do SARS-CoV-2 aumenta outras doenças, podemos admitir que as outras doenças tinham, em 2019, a mesma incidência que têm hoje. A quantidade de infartes e de traumas que o hospital [de São João] está a receber é provavelmente a mesma que era em 2019 e 2018. A única coisa que acontece agora é que uma parte desses doentes é SARS-CoV-2 positivo e outra não é”.
Esta terça-feira, o boletim da DGS assinala uma descida no total de internamentos, com 2320 pessoas hospitalizadas, 158 em unidades de cuidados intensivos.