Na Índia, uma doença conhecida como fungo negro tem sido detetada em antigos doentes covid. A mucormicose é uma doença fúngica rara e muitas vezes fatal que disparou por todo o país desde a segunda vaga da pandemia, noticia o “The New York Times”.
Perante a pressão e a falta de meios para combater a segunda onda, os médicos acreditam que os hospitais fizeram escolhas que deixaram os doentes covid vulneráveis e que podem ter propiciado o desenvolvimento de mais uma doença potencialmente mortal.
No Hospital Civil, na Índia, o otorrinolaringologista Bela Prajapati supervisiona o tratamento de quase 400 pacientes com mucormicose. Segundo este médico, “a pandemia precipitou uma epidemia” na Índia.
Em três semanas o número de casos da doença fúngica disparou até mais de 30.000. O Ministério Federal da Saúde em Nova Deli, que acompanha os casos, ainda não divulgou o número de mortes.
A pandemia evidenciou as desigualdades e as diferenças entre as nações ricas e pobres, o que também se reflete na epidemia de mucormicose na Índia. Durante a segunda vaga da pandemia que atingiu o país em abril, os hospitais careceram de camas, oxigénio e outros meios vitais, enquanto o número de casos de mortes disparava.
"A mucormicose vai diminuir e voltar à linha de base à medida que os casos de covid-19 se atenuam", considera o epidemiologista Dileep Mavalankar. "Mas pode voltar na terceira vaga, a menos que descubramos por que é que está a acontecer", acrescenta, citado pelo “The New York Times”.
Muitos médicos na Índia suspeitam que os hospitais sobrelotados e a falta de oxigénio médico propiciaram o desenvolvimento do fungo. Além disso, muitos clínicos injetaram os doentes com esteróides - um tratamento padrão para a covid-19 a nível global. Estes esteróides podem ter comprometido o sistema imunitário dos doentes covid, tornando-os mais suscetíveis aos esporos fúngicos.
A doença é conhecido pelo nome de fungo negro porque é encontrada em tecido morto. Se não for tratado, o fungo pode atacar o trato gastrointestinal, os pulmões, a pele e os seios nasais, onde frequentemente se espalha até à órbita (no olho) e ao cérebro. A mucormicose não é transmitida de pessoa para pessoa.
Segundo o Ministério da Saúde da Índia, cerca de quatro em cada cinco pacientes com mucormicose tiveram covid-19. O primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, descreve a doença fúngica como um novo "desafio" e diz que é "importante criar meios para a combater".
A Índia é uma país com cerca de 1,4 mil milhões de pessoas. Apenas 49,4 milhões foram totalmente vacinadas contra a covid-19 (com as duas doses), o que coloca a restante população suscetível a uma terceira vaga.
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