Nunca foi “nenhum Pavarotti”, mas a voz ainda lhe rouqueia. Faz dela uso para enumerar pausadamente a lista do que mudou durante um ano. Após 94 dias internado, quase metade do tempo em coma, “os dentes ficaram afetados, como a visão”. Passou a ver só a 65% do olho direito e começou a usar óculos. Cansa-se mais depressa e há uma dor nas costas que lhe aparece quando os níveis de stress aumentam. Sente-se a repetir-se algumas vezes, a esquecer “rapidamente palavras que acabou de dizer e que antes memorizava” e a ter de “apontar tudo”.
A televisão só é ligada de tempos a tempos, porque a pandemia tarda em acabar e as reportagens com doentes internados lhe reavivam memórias dolorosas, “não pelas imagens das pessoas acamadas no hospital, mas pelo barulho das máquinas”. O som pautado dos ‘bips’ que tanto tempo lhe entrou no subconsciente entranha-se agora de novo e parece juntar-se todo em forma de “nó na barriga”.
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