A transmissão entre animais, começando por morcegos e circulando entre outros até chegar aos humanos, é a hipótese mais provável para a origem do vírus da covid-19. Por outro lado, a possibilidade de um vírus que tenha “escapado” de um laboratório chinês, parece definitivamente posta de parte, segundo o que avança a Associated Press, que teve acesso a uma versão preliminar do relatório que sai dos estudos da Organização Mundial da Saúde (OMS) na China.
Uma equipa internacional de cientistas da OMS foi encarregada de rastrear a origem da covid-19 na China, onde chegou em janeiro, e de onde se comprometeu a explorar “todas as vias” para o nascimento do vírus que parou o mundo — mas sem apontar culpados diretos pela pandemia. As conclusões estão perto de serem conhecidas.
A AP conta agora que recebeu uma versão quase final do relatório esta segunda-feira, mas que não pode identificar a fonte, que se trata de um diplomata, visto que a revelação das conclusões não está autorizada.
Segundo a mesma fonte, os cientistas identificam quatro possíveis cenários para o nascimento do vírus e o primeiro é a transmissão através de um segundo animal. Isto é, o vírus terá tido origem em morcegos, que depois o propagaram e passaram a uma outra espécie, que por sua vez o fez chegar aos humanos. A hipótese é mais provável do que a passagem de morcegos para algum produto alimentar e só depois aos humanos.
O relatório agora avançado pela AP é baseado na visita dos peritos da OMS à China e lembra ainda que o parente mais próximo deste coronavírus já tinha sido encontrado em morcegos, que são capazes de o transportar. No entanto, lê-se ainda na descrição da AP, “a distância evolutiva entre esses vírus de morcego e o SARS-CoV-2 é estimada em várias décadas”, o que sugere que há nesta hipótese “um elemento em falta”.
Os morcegos não são os únicos animais referidos no relatório. Pangolins, visons e gatos, todos vulneráveis à covid-19, são tidos como possíveis portadores da doença.
Peter Embarek, um dos líderes da perícia da OMS na China, mais precisamente em Wuhan, onde o vírus terá começado, afirmou na sexta-feira que o relatório já está feito, verificado e traduzido. “Espero que nos próximos dias possamos divulgá-lo publicamente.”
Há pouco mais de duas semanas, um membro do Comité de Conselheiros Internacionais da OMS, Jamie Metzl, apontou ao Expresso “a destruição de amostras médicas e a censura imposta a quem tenha informação” por parte do regime chinês como indícios de que a tese da fuga acidental de um laboratório era a mais credível, o que esta informação revelada pela AP vem contrariar.
A AP diz que sobre o início da pandemia num mercado em Wuhan, não há conclusões definitivas, até porque existem relatos credíveis de outros casos, noutros pontos do país, antes desses.
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