Numa visita recente à maior fábrica de vacinas da Europa, em Puurs, na Bélgica, o comissãrio europeu para o Mercado Interno, Thierry Breton, recorreu aos números para evidenciar o problema que envolve a produção em massa das vacinas contra a covid-19. Considerando apenas o fabrico da vacina da Pfizer-BioNTech, disse ele, são necessárias 280 substâncias, adquiridas a 86 fornecedores, oriundos de 19 países diferentes. Ou seja, se desenvolver uma vacina contra o novo coronavírus parecia o mais complicado, produzi-la na larguissima escala que o mundo exige está a tornar-se uma tarefa ainda mais desafiante.
Com acordos firmados e uma demanda crescente, a indústria farmacêutica fixou como objetivo produzir 10 mil milhões de doses de vacinas este ano, mas enfrenta sérias dificuldades para o cumprir. Thomas Cueni, diretor-geral da Federação Internacional da Indústria Farmacêutica (IFPMA, na sigla original) já veio lembrar que a meta representa o dobro da capacidade de produção atingida em 2019, somando todos os tipos de vacinas, pelo que considera não ser “surpreendente que existam problemas”. Mas é a dimensão desses problemas que está a causar apreensão, já que a mesma IFPMA reconhece que os desafios estão a surgir “em todas as etapas”.
De forma cada vez mais insistente, os fabricantes queixam-se de falta de matéria-prima ou material de apoio. Além de ingredientes em quantidades nunca antes necessárias, na lista das ‘compras’ para a produção de vacinas constam bens como vidro para o fabrico de frascos, plástico ou tampas, o que explica a dependência de vários fornecedores. “O problema não é tanto a falta de capacidade instalada para produzir vacinas, mas a dificuldade de acesso a estes bens”, afirma Nuno Vale, professor da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e investigador na área de farmacologia, que vê no estabelecimento de parcerias a resposta para contornar o problema.
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