Nenhum recluso morreu de covid-19 em Portugal mas a crise sanitária veio piorar ainda mais as condições das prisões portuguesas: a higiene não é suficiente, o isolamento aumentou e por isso a saúde mental dos cidadãos que estão presos no país está a piorar, o que vai dificultar — ainda mais — a sua reinserção social.
“Temos tido um contacto praticamente diário com esta direção dos serviços prisionais [DGRSP]. A situação [epidemiológica] está a melhorar de dia para dia e agora todos os reclusos usam máscaras, que são fornecidas diariamente”, começa por dizer ao Expresso Vítor Ilharco, secretário-geral da APAR - Associação Portuguesa de Apoio ao Recluso. No entanto, o responsável chama a atenção para a falta de condições sanitárias. “Continua a haver muitas insuficiências de higiene. Faltam produtos para desinfetar as mãos e as celas e sempre que há um caso positivo numa cela os outros reclusos têm de ser movidos e acabam em celas com dez, 12 pessoas, já sobrelotadas”, lamenta.
“No Estabelecimento Prisional [EP] de Lisboa, por exemplo, as celas individuais têm um beliche com três camas e estão três reclusos lá dentro, com uma distância de 80 centímetros entre a cama e a parede, confinados durante 22 horas por dia”, aponta ainda. “Nessas celas só cabe uma pessoa em pé de cada vez: quando alguém se quer levantar, os outros dois reclusos têm de ficar deitados na cama.” Além disso, continua, “têm uma sanita ao fundo da cama sem qualquer divisória”. “Fazem as necessidades à frente uns dos outros e à noite têm de ter o cuidado de pôr uma garrafa de água de litro e meio a tapar o buraco da sanita para as ratazanas não saírem.”
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