Médicos de Saúde Pública. Desconfinamento deve ser regrado e disciplinado
A precipitação pode comprometer o esforço feito no combate à pandemia de covid-19, alertou o presidente da associação, Ricardo Mexia
A precipitação pode comprometer o esforço feito no combate à pandemia de covid-19, alertou o presidente da associação, Ricardo Mexia
A Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública considerou esta quarya-feira que o desconfinamento do país deve ser regrado e disciplinado, defendendo que não deve ser precipitado e comprometer o esforço feito no combate à pandemia de covid-19.
"Eu percebo a implicação económica e social tremenda que tudo isto tem, mas não podemos novamente ser precipitados na nossa abordagem e, dessa forma, comprometer aquilo que foi o esforço que fizemos, designadamente com muita dificuldade agora em janeiro", disse à agência Lusa o presidente da associação, Ricardo Mexia.
A este propósito, o médico acrescentou: "Tenho muito receio que agora, com esta descida dos números, de repente passemos outra vez a ser os melhores do mundo e a querer reabrir tudo sem verdadeiramente ponderar essas implicações".
Esperando que "haja ponderação" nesta matéria e que a comunicação "também seja clara" sobre os desafios que o país ainda enfrenta, Ricardo Mexia notou que "vacinar todos ainda está muto longe", sendo que as diversas medidas de proteção vão manter-se "durante muito tempo".
Questionado se um eventual desconfinamento tem de ser feito com conta peso e medida, Ricardo Mexia respondeu: "Precisamente, planear o desconfinamento e fazê-lo de forma regrada e disciplinada".
Na terça-feira, a ministra da Saúde, Marta Temido, disse que Portugal deverá continuar com o nível de confinamento atual até meados de março, indicando que o país continua com uma "incidência extremamente elevada" de novos casos de contágio pelo novo coronavírus.
Quanto ao reforço da capacidade de rastreio da covid-19, deveria "ter acontecido antes" do aumento de casos, disse Ricardo Mexia, considerando que se foi "atrás do prejuízo".
"Este reforço tinha de ter acontecido antes, para [que] quando as necessidades surgem elas possam ser rapidamente supridas e não permitir-nos esse acumular de inquéritos pendentes que, obviamente, prejudica aquilo que é o controlo da pandemia, porque não nos permite interromper as cadeias de transmissão", afirmou.
A ministra da Saúde, Marta Temido, anunciou esta quarta-feira, numa audição na Comissão de Saúde, na Assembleia da República, em Lisboa, que a capacidade de rastreio dos casos de covid-19 quase triplicou entre dezembro de 2020 e fevereiro de 2021.
Em 27 de janeiro, a Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública alertou para a necessidade de um "reforço importante" do número de rastreadores, para seguimento de contactos de risco de covid-19, salientando que havia cerca de 40 mil inquéritos epidemiológicos em atraso.
"O que aconteceu foi que nós fomos atrás do prejuízo, mais uma vez", declarou Ricardo Mexia, lembrando os sucessivos avisos da associação de que "era necessário reforçar estes meios", para que, quando fossem necessários, "estivessem disponíveis e tivessem capacidade de resposta", e não ocorrer "o prejuízo de não conseguir responder em tempo útil às solicitações".
Para o presidente da associação, quando houve "dezenas de milhar de inquéritos epidemiológicos pendentes tem a ver com esta dissociação entre aquilo que são as necessidades e aquilo que eram os recursos".
Sem dúvidas de que os recursos foram reforçados, "numa fase inicial, de forma muito incipiente, entretanto, talvez de forma mais robusta", mas sem conseguir "fazer face àquilo que são as necessidades", o médico defendeu, no entanto, ser fundamental que se perceba de que forma "as intervenções reduziram, efetivamente, aquilo que era a incidência".
"Porque podemos reduzir o número de inquéritos pendentes de forma quase artificial, mas isso depois não se repercute naquilo que nos interessa, que é interromper as cadeias de transmissão e, naturalmente, proteger a saúde dos portugueses", observou.
Ricardo Mexia adiantou que "o mês de janeiro demonstra bem o facto" de em vez de as autoridades terem sido reativas e não proativas.
"O tempo que demorámos a implementar as soluções, o tempo que demorámos a reforçar os meios, tudo isso, naturalmente, compromete aquilo que é a nossa capacidade de enfrentar um problema que tem uma magnitude extraordinária", declarou
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