Coronavírus

Fecho de fronteiras revolta autarcas do Alto Minho. Eduardo Cabrita irredutível

Uma patrulha da Guardia Civil a vigiar o rio Minho, que divide os dois países
Uma patrulha da Guardia Civil a vigiar o rio Minho, que divide os dois países
Octavio Passos

Os presidentes de Câmara do Vale do Minho lamentam que o Governo, mais uma vez, não os tenha ouvido, antes de voltar encerrar a fronteira. Alegam que medida não trava o vírus, mata a economia e tem o único condão de afunilar pessoas e mercadorias em Valença/Tui. MAI vai reavaliar a medida de 15 em 15 dias

Fecho de fronteiras revolta autarcas do Alto Minho. Eduardo Cabrita irredutível

Isabel Paulo

Jornalista

Fernando Nogueira, presidente da Câmara de Cerveira e diretor do Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT) do Rio Minho, já enviou um comunicado ao Governo a discordar do encerramento de fronteiras no Alto Minho, posição que recorda já foi manifestada no primeiro confinamento em março. "Não aprenderam nada", alega, referindo que, até agora, ainda não obteve resposta da nota remetida ao Ministério da Administração Interna, em nome dos "colegas" de Melgaço, Caminha, Valença e Monção.

O autarca independe afirma ao Expresso que a decisão em vigor desde a meia noite deste domingo “é digna de não conhece a região transfronteiriça”. “A única coisa que o encerramento provoca são filas de espera de mais de uma hora e ajuntamentos nos dois sentidos”, diz, advertindo que, se é para paralisar quem não pode trabalhar à distância, mais vale “encerrar as fábricas e acabar com os postos de trabalho”.

“Estamos a falar de trabalhadores que ganham € 600/€700 que vão ter despesas extra de mais € 100 euros em combustível, levantarem-se de madrugada e ficar mais de 1 hora em filas de espera em Valença, na Ponte Nova, a única passagem autorizada e sob controlo de ligação a Tui”, frisa Fernando Nogueira.

O AECT mantém que “vai contestar pelas formas legais ao seu alcance” o encerramento de três pontes entre o Alto Minho e Galiza, invocando o “interesse superior dos trabalhadores transfronteiriços”. Fernando Nogueira irá reunir no início da semana com os autarcas da região para conciliarem a melhor estratégia de protesto, “em sintonia com os responsáveis locais” galegos.

Apesar de as autoridades policiais locais “não terem culpa da má avaliação do Governo”, Fernando Nogueira alerta que, desta vez, os autarcas vão colocar muitas reservas em colaborar com as medidas de restrição, lembrando que, após os protestos do primeiro confinamento, Portugal e Espanha acordaram a abertura das pontes que ligam o concelho de Melgaço a Arbo, Monção a Salvaterra do Miño, e Vila Nova de Cerveira a Tominõ, as três pontes de passagem agora de novo interditas e que abrange 10 municípios portugueses e 16 galegos.

Medida não trava o vírus e mata a economia

Também o presidente da Câmara de Caminha alega ser “totalmente inútil” do ponto de vista de saúde pública o encerramento das passagens na raia entre o Minho e a Galiza. “É uma medida nada adianta na contenção de surtos e é mais uma facada na economia local”, diz Miguel Alves, que lembra que do lado de lá e de cá da fronteira a população está em confinamento, só cruzando a fronteira os trabalhadores portadores de autorização para circularem.

O presidente da Comissão Distrital da Proteção Civil de Viana do Castelo salienta que, tanto do lado espanhol como do português, tudo o que são restaurantes, cafés, equipamentos culturais e desportivos estão encerrados, bem como a circulação entre concelhos na Galiza, o que leva a que a interdição de passagem “apenas penalize os cerca de seis mil trabalhadores transfronteiriços”.

“A atividade económica nas comunidades junto ao rio Minho já foi estrangulada ao mínimo, mantendo-se em atividade apenas fábricas e cadeias de distribuição alimentar”, refere Miguel Alves, que afirma que são os trabalhadores, na maioria dos casos a ganhar salário mínimo ou pouco mais, os mais penalizados com o fecho das três pontes fronteiriças, “obrigados a percorrem mais de uma centena de quilómetros” para convergir numa única passagem autorizada.

“No vale do Minho, o efeito é o afunilamento das pessoas em Valença, na passagem autorizada na Ponte Nova, com ajuntamentos e filas inevitáveis”, acrescenta, advertindo a tutela que o horário de passagem autorizado em Monção “é desajustado à entrada de operários nas fábricas e aos períodos de mudanças de turno”

O autarca socialista de Caminha já manifestou em troca de mensagens com o ministro da Administração Interna a indignação dos presidentes de Câmara locais. Ao Expresso, Miguel Alves refere que Eduardo Cabrita, embora sensível aos argumentos, vai manter as três pontes de passagem encerradas, decisão que será reavaliada de 15 em 15 dias.

Manuel Batista, presidente da Câmara de Melgaço, afirma que, se o Governo não emendar a mão, os autarcas vão preparar “um protesto mais musculado”, lamentando também que a tutela não tenha “aprendido nada” com o confinamento da raia minhota na primeira vaga da pandemia.

Embora não adiante que medidas de contestação irão ser organizadas, o autarca do PS diz que, no seu caso, já manifestou às autoridades policiais locais que não prestará apoio logístico para proibir a circulação. “Do meu lado, não colaboro na colocação de barreira físicas, de betão ou outras, para impedir a circulação”, garante, avisando que é um perigo maior afunilar pessoas e mercadorias para um único ponto de passagem do que manter as três pontes de passagem abertas.

“Se é para matar de vez a economia residual que subsiste, mais vale fechar tudo do que impedir, quem não pode optar pelo teletrabalho, de se deslocar para manter os seus postos de trabalho, com despesas extra de combustível e perda de horas em filas do lado de lá e de cá”, conclui Manuel Batista, que lastima que o Governo não tenha,“ como sempre”, ouvido os autarcas.

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