A recomendação da Agência Europeia do Medicamento (EMA) de se poderem extrair seis doses de vacina da Pfizer e da BioNTech em frascos preparados para cinco - algo que Portugal garantiu que já estava a fazer - foi seguida da decisão dos laboratórios em reduzir o número de frascos nas encomendas aos vários países, o que está a contribuir para atrasos nos planos de vacinação.
O jornal "Libération" faz manchete com o "Escândalo da 6,ª dose" na edição desta sexta-feira, destacando que a recomendação de se extrair mais imunizante de um frasco para não haver desperdício está a servir de pretexto aos laboratórios para cobrarem a dose extra, e num momento em que os países europeus estão ansiosos por acelerar os planos de vacinacão e a braços com picos de infetados no terceiro surto de covid-19.
A Pfizer e a BioNTech estabeleceram contratos com os governos para números definidos de doses da vacina, e devido à recomendação da EMA estão agora a ajustar as encomendas e a reduzir o número de frascos que entregam.
Mas várias autoridades de saúde a nível europeu alertaram que o processo de extrair seis doses de um frasco de cinco não é fácil, exige um tipo especial de seringa, e a alteração nos volumes de entrega por parte dos laboratórios está a trazer obstáculos efetivos ao cumprimento do calendário das campanhas de vacinação.
Itália prepara ação judicial contra a Pfizer
Segundo a autoridade de saúde de Hamburgo, na Alemanha, a mudança decidida pelos laboratórios resultou no facto da cidade estar agora a receber menos 20% da vacina do que até à data. “Anteriormente, recebíamos seis frascos para cada 30 doses da vacina que pedíamos. Agora estamos a receber apenas cinco”, salientou Melanie Leonhard, ministra da saúde de Hamburgo, citada pelo "Financial Times".
A par da recomendação pública da EMA, a Pfizer também sentiu dificuldade em assegurar os fornecimentos devido à reformulação da fábrica na Pfizer na Bélgica. Um dos países a reagir no imediato foi Itália, que diz ter uma queda de 29% no número de doses da vacina da Pfizer face ao que estava a receber. Segundo Domenico Arcuri, comissário extraordinário da covid-19 em Itália, o país prepara "nos próximos dias" uma ação judicial contra a Pfizer, frisando que “a campanha de vacinação não pode ser abrandada, principalmente no que diz respeito à aplicação de segundas doses a italianos que já receberam a primeira”.
A Pfizer justificou ao "Financial Times" que os seus acordos com os governos sempre foram baseados na entrega de doses e não na entrega de frascos. “Forneceremos os países consoante os nossos acordos de fornecimento, e com a etiqueta válida no país, e cumpriremos os nossos compromissos de fornecimento em linha com os acordos existentes - que são sempre baseados na entrega de doses, não de frascos”, explicitou o laboratório.
A Comissão Europeia está também a ser pressionada a adotar uma posição mais forte com a Pfizer e outros fornecedores de vacinas. “Precisamos que a comissão não seja apenas um coordenador, mas também um negociador duro com as empresas farmacêuticas, falando em nome de 450 milhões de europeus”, defendeu um diplomata da UE ao "Financial Times". Em nota ao jornal norte-americano, a Comissão Europeia frisou que a entrega acordada das doses da vacina “tem que ser respeitada pela empresa”.
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