Vinte e quatro ou 26 de dezembro: num destes dias chegam a Portugal as primeiras doses da vacina da Pfizer/BioNTech e devem ser entregues aos centros hospitalares de Lisboa Central (que integra São José e Curry Cabral) e de São João, no Porto, para serem administradas a profissionais de saúde. A primeira entrega é simbólica – apenas 9750 doses - e foi acertada a nível da Comissão Europeia, que está a centralizar todas as compras de forma a que o histórico processo de vacinação se inicie em todos países da comunidade ao mesmo tempo.
No início de janeiro chega a Portugal o primeiro grande lote, composto por 303 mil doses – todas da Pfizer - que permitem cumprir no final de janeiro a primeira grande etapa: 75% dos residentes e profissionais em lares vacinados contra a covid-19 (118 mil residentes e profissionais de lares e ainda 21 mil profissionais de saúde).
Os lares serão, aliás, o primeiro grupo com proteção total, a meio de fevereiro, segundo as estimativas da task force, chefiada por Francisco Ramos e que foi criada para coordenar o processo. A sua vacinação será feita por equipas móveis que se deslocam aos estabelecimentos, sempre que estes não tenham profissionais de enfermagem. Já os profissionais de saúde vão conseguir estar todos vacinados só a meio de março – enquanto os doentes com comorbilidades só acabarão o processo em abril.
Mas as certezas sobre o processo ficam por aqui – tudo o resto soma incertezas. Desde logo porque a produção de vacinas derrapou. Primeiro a Pfizer, que já reviu em baixa as suas entregas à Europa no primeiro trimestre, o que em Portugal se traduz em menos 123 mil pessoas vacinadas no arranque do programa. Também a vacina da Astrazeneca (que ainda nem tem data para aprovação pelas autoridades europeias) avisou já que terá menos 865 mil doses do que pensava no primeiro trimestre (o que daria para 432 mil portugueses). A somar a isto, a sexta vacina acordada com a UE (a da Sonofi) teve problemas nos testes, fazendo com que tenha sido riscada dos mapas de previsões.
Depois porque, face a estas incertezas na distribuição, o grupo de trabalho optou por não distribuir todas as doses logo que cheguem, guardando uma segunda para cada pessoa que tenha sido vacinada (e mais 15 mil por prudência, para eventuais acidentes).
Com isto, as novas previsões das autoridades portuguesas apontam para que seja possível vacinar pouco mais de milhão e meio de pessoas até abril. É pouco mais do que o primeiro grupo de prioritários, que inclui 950 mil pessoas. Isto se se confirmar que haverá três vacinas no mercado até lá – se só tiver sido aprovada a da Pfizer, serão apenas 600 mil pessoas no primeiro trimestre. Na equipa de trabalho, por tudo isto, admite-se que o calendário acabe por ser ajustado em baixa.
Desta forma prevê-se que a totalidade de utentes e profissionais de lares estejam vacinados com as duas doses em meados de fevereiro, os profissionais de saúde até ao final de março, as pessoas com 50 anos ou mais e com doenças de risco para a covid-19 (como doença coronária ou insuficiência cardíaca) e outros profissionais (forças armadas, forças de segurança e outros serviços críticos) em abril.
O calendário vai assim resvalar: em vez de dois meses (cenário mais otimista admitido por Francisco Ramos há duas semanas), é já certo que só em abril estará concluída a vacinação da totalidade dos grupos prioritários.
Mais um detalhe: de acordo com o grupo de trabalho, as pessoas que já estiveram infetadas com a Covid-19 vão poder tomar a vacina.
Entretanto, o grupo de trabalho está já a lançar a organização do processo, incluindo as bases de dados dos utentes que serão candidatos a esta primeira fase. A novidade, agora, é que as pessoas serão chamadas por SMS, tendo que confirmar com um "SIM" ou "NÃO" se querem ser vacinadas. Em caso positivo, a marcação será feita também por SMS. O Governo já deu início à distribuição de cerca de 20 mil telemóveis para as unidades de Cuidados de Saúde Primários que não têm material para entrar em contacto com os utentes.
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