Margarida Silvestre jamais imaginou que iria substituir o exemplo do surto de poliomielite no norte da Europa durante a década de 1950, que usa nas aulas de Ética e Deontologia na Universidade de Coimbra (UC), por um outro, mais próximo, quase palpável.
Há 70 anos, em alguns hospitais europeus os médicos deparavam-se com escolhas quase diárias: com milhares de doentes de polio, abreviatura da doença que causa paralisia dos membros e pode levar à morte, era preciso escolher para quem ia o chamado “pulmão de aço”, um ventilador de pressão negativa que ajudava a respirar. O desafio ético era de tal ordem que, em alguns casos, os médicos não conseguiam decidir-se e a escolha chegava a ser votada numa espécie de conselho popular.
“Para um médico, o princípio da justiça, sob o ponto de vista ético, é o mais difícil de cumprir”, comenta a professora e vice-presidente da Comissão de Ética da Faculdade de Medicina da UC. “Felizmente, em Portugal não tivemos de passar por isso.” Ao longo da conversa com o Expresso sobre o plano de vacinação contra a covid-19 em Portugal, a investigadora há-de insistir num ponto que, parece-lhe, não ficou imediatamente claro quando ele começou a ser conhecido: “não é uma escolha, porque ninguém vai ficar sem vacina”.
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