Terá sido o Carnaval o ponto de viragem da pandemia no Brasil? Diretor de hospital de São Paulo acredita que sim
Primeiro caso reporta a janeiro, primeira morte associada à doença ocorre em março, e pelo meio o Carnaval bateu recorde de público
Primeiro caso reporta a janeiro, primeira morte associada à doença ocorre em março, e pelo meio o Carnaval bateu recorde de público
Um estudo realizado pelo administrador do Hospital Brsurgery, Roberto Carvalho Dias, chegou à conclusão que a covid-19 espalhou-se no Brasil durante o Carnaval. A pesquisa baseou-se na informação de que o primeiro caso confirmado da doença no Brasil ocorreu a 26 de fevereiro, um dia após o feriado de carnaval. Sabendo que os sintomas da covid-19 podem demorar até 14 dias a manifestarem-se desde o momento do contágio, é fácil concluir que o caso de um homem de 62 anos que tinha regressado de uma viagem a Itália e que foi anunciado como primeiro óbito no dia 16 de março, em São Paulo, já estaria infetado antes do Carnaval.
Mas antes de continuarmos com as conclusões daquela pesquisa é preciso abrir um parêntesis para informar que a 2 de abril o secretário de Vigilância em Saúde, Wanderson de Oliveira, veio anunciar que após investigação retrospectiva das ocorrências de síndrome respiratória foi possível identificar um caso positivo, aparentemente o primeiro caso registado oficialmente no Brasil, a 23 de janeiro. Segundo um outro estudo liderado pelo Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), antes do Carnaval já havia 17 brasileiros infetados com o coronavírus em hospitais e nove mortos. Durante a folia, havia 24 pessoas internadas e dez óbitos.
Voltando ao estudo do administrador do Hospital Brsurgery, que considerou que 99% das pessoas são assintomáticas, quando o primeiro caso apareceu, provavelmente mais pessoas já estavam infetadas pelo vírus no Brasil. Essas pessoas saíram à rua no Carnaval e passaram a outras pessoas.
“Se você considera que essa pessoa representa 1% das pessoas que tiveram o vírus, ela e as outras pessoas infetadas transmitiram a doença durante o Carnaval, um período de grande aglomeração”, afirma.
Apesar da teoria de que o coronavírus se espalhou em larga escala durante os três dias de folia carecer de base científica, a verdade é que de acordo com o Ministério do Turismo brasileiro, a maior festa popular brasileira bateu recordes de assistência em várias regiões este ano, com milhões de visitantes. As cidades de Olinda, Recife e Salvador receberam 22,1 milhões de pessoas, o maior número de sempre registado até hoje. Informações divulgadas pela prefeitura do Rio de Janeiro, dão conta de que mais de 6,4 milhões de foliões aproveitaram os blocos e os desfiles das escolas de samba na capital fluminense, entre os dias 21 e 26 de fevereiro. Mas ainda que hipoteticamente o Carnaval tivesse sido um dos focos de propagação do vírus no Brasil, o problema não poderia ser creditado apenas aos turistas estrangeiros, uma vez que já havia brasileiros infetados, mas que tiveram resultado negativo nos testes realizados, e ao não serem isolados imediatamente é muito provável que tenham espalhado o vírus também.
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