Coronavírus

Covid-19. Aplicações de rastreio de contactos revelam dificuldades de adoção generalizada

18 maio 2020 10:23

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Obrigatórias ou voluntárias, apps de contact tracing em vários países mostram dificuldade em gerar impacto significativo. “Estas apps têm o seu papel, mas a sua utilidade depende da tecnologia, de quantas pessoas a utilizam e de que forma os dados são aproveitados”, explica especialista em saúde

18 maio 2020 10:23

À medida que vão reabrindo as suas economias, países de vários pontos do mundo têm procurado desenvolver aplicações de rastreio de contactos (contact tracing), para ajudar no combate à pandemia de covid-19. Mas a experiência de algumas das primeiras apps apoiadas pelos governos destes países mostra a dificuldade que estas têm tido em gerar impacto significativo, noticia esta segunda-feira o “Financial Times”.

“Estas apps têm o seu papel, mas a sua utilidade depende da tecnologia, de quantas pessoas a utilizam e de que forma os dados são aproveitados”, explica ao jornal norte-americano Anant Bhan, investigador em saúde da Universidade de Yenepoya, na cidade indiana de Mangalore. De acordo com investigadores de Oxford, citados pelo “Financial Times”, as aplicações de rastreio de contactos têm de ser descarregadas por pelo menos 60% da população para serem eficazes.

A Índia é um dos países que já lançou uma aplicação para rastreio de contactos apoiada pelo Governo. A app Aarogya Setu, que é de utilização obrigatória, já ultrapassou os 100 milhões de downloads desde o seu lançamento a 2 de abril, mas este número é apenas uma pequena fração da população indiana de 1,3 mil milhões. Ainda assim, um dos responsáveis pelo desenvolvimento da aplicação garante que esta já ajudou as autoridades de saúde a identificarem 50 mil pessoas em risco.

Mas a app – que utiliza dados de georreferenciação e tecnologia bluetooth – tem estado sob escrutínio desde que um hacker francês garantiu que consegue utilizar os dados de localização para identificar pessoas em risco. O pirata informático mostrou-se ainda preocupado com o facto de os dados dos utilizadores estarem armazenados em servidores centralizados.

Na Islândia, 340 mil pessoas (40% da população) descarregaram a aplicação Rakning C-19 desde o seu lançamento em meados de abril. Mas as autoridades consideram que, embora esta seja “útil”, não foi “decisiva” para o país.

Também na Noruega apenas um quinto da população adulta fez download da aplicação Smittestopp e, em Singapura, apenas 25% da população de 5,7 milhões descarregou a app voluntária TraceTogether.

Singapura lançou ainda no final de abril uma tecnologia intitulada SafeEntry, um sistema de check-in obrigatório localizado na entrada de hotéis, supermercados, hospitais e escritórios, que regista – através de QR codes ou números de registo nacional – a entrada e saúde de trabalhadores e visitantes.

Recorde-se que o Governo português está a avaliar a possibilidade de apoiar uma aplicação de rastreio de contactos, para ajudar no combate ao novo coronavírus. Até à data, ainda não há uma app escolhida, mas a StayAway, desenvolvida pelo Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC TEC), é a que tem sido apontada como principal candidata.

Ao Expresso, Rui Oliveira garante que “a app não tem qualquer patamar mínimo de utilização”. Sublinhando que a sua eficácia é proporcional à sua utilização, o administrador do INESC TEC diz que esta não precisa de ser utilizada por 60% da população para ser eficaz. “Apenas dissemos que estudos epidemiológicos mostram que numa doença como a covid-19, se conseguirmos que 50% a 60% da população implemente as medidas de mitigação, controlamos a doença.”