Covid-19. Costa diz que crise será paga pelo “esforço de todos”, mas o país poderá sair em melhores circunstâncias
“Isto vão ser meses muito difíceis, eu diria um ano muito difícil”, admitiu o primeiro-ministro, no Porto Canal
“Isto vão ser meses muito difíceis, eu diria um ano muito difícil”, admitiu o primeiro-ministro, no Porto Canal
O primeiro-ministro, António Costa, considerou este sábado que a crise financeira decorrente da pandemia vai ser paga "pelo esforço de todos", mas defendeu que Portugal poderá sair deste período "em melhores circunstâncias" do que aquelas em que entrou.
"Com mais apoio comunitário ou menos apoio comunitário, isto vai ser pago pelo esforço de todos", afirmou António Costa durante uma entrevista no Porto Canal.
O primeiro-ministro sublinhou que o Governo tem consciência de que as medidas aprovadas para apoiar as empresas e o rendimento dos trabalhadores permitem "mitigar a situação", mas não a resolvem.
Contudo, o chefe do Governo mostrou-se confiante na recuperação do país.
"Isto vão ser meses muito difíceis, eu diria um ano muito difícil, mas em que temos condições, se conseguirmos continuar a conter a pandemia, para poder sair desta situação - e eu diria -- [para] podermos sair desta situação em melhores circunstâncias do que aquelas em que entrámos", referiu António Costa.
O primeiro-ministro advogou que "há um conjunto de novas atividades, designadamente na área industrial", que o país tem "condições para criar".
Durante a entrevista, Costa salientou que a pandemia colocou a descoberto a dependência da Europa na importação de produtos essenciais, considerando, por isso, que os países vão ter de "reaprender muito daquilo" que se habituaram a "mandar vir de fora".
Neste domínio, Portugal "tem condições de excelência para poder estar na linha da frente dessa capacidade de reabsorção de muitas coisas", considerou.
"A nossa indústria de confeções está cá, portanto, pode com facilidade readaptar as linhas de produção para deixar de produzir o que tem produzido nas últimas décadas, para passar a produzir muitas das coisas que deixámos de produzir", complementou, sublinhando que a produção de "bens de maior valor" também se vai traduzir em mais postos de trabalho e "maior remuneração".
O primeiro-ministro reiterou a necessidade de uma resposta europeia à crise financeira decorrente da pandemia, considerando não ser preciso apelar "aos valores de solidariedade", porque a "lógica mercantilista" mostra que é do interesse de todos os Estados-membros.
"Não é preciso apelar aos valores da solidariedade. A pura lógica mercantilista é suficiente para explicar por que razão é mesmo necessário que a Europa responda em conjunto", considerou António Costa.
"É do interesse de todos. É puro egoísmo, se quiser. A Holanda, que é das maiores beneficiárias do mercado interno [europeu], não precisa de ajudar os outros para bem dos outros. Precisa de comparticipar com todos num esforço comum para seu benefício próprio", explicou o chefe do Governo.
António Costa sublinhou que a União Europeia (UE) tem de ter um "instinto de sobrevivência" e, se a resposta a esta crise devido à pandemia da covid-19 não for "em conformidade" com a gravidade do problema, todas as "pulsões antieuropeias que existem em vários países vão sair fortalecidas".
"Felizmente, o Banco Central Europeu agiu rapidamente, a Comissão Europeia deu passos para uma ação rápida, o Parlamento Europeu também. O que é que tem estado a enterrar o funcionamento das instituições europeias? Os Estados, reunidos no Concelho [Europeu]", prosseguiu Costa, acrescentando que é preciso superar a "pequena minoria que tem estado a bloquear" o processo de decisão.
António Costa realçou que "há alguns colegas" de outros Estados-membros da UE que "parecem ter a ilusão de que sozinhos resolvem os seus problemas", mas "estão enganados".
O chefe do Governo socialista exemplificou que Portugal, "depois de um grande esforço nas últimas décadas, conseguiu que 44% do seu PIB [Produto Interno Bruto] fosse de exportações", sublinhando que os "principais clientes" do país são a Alemanha e Espanha.
"Portanto, nós não estaremos bem se Espanha e a Alemanha não estiverem bem", adiantou, notando que não há possibilidade de "encontrar mercados alternativos com a dimensão dos mercados alemão e espanhol".
O primeiro-ministro realçou que esta postura também se aplica aos restantes países da UE, já que a recuperação da Europa depende da recuperação das economias espanhola e italiana, duas das mais afetadas pela pandemia.
"Os holandeses, que são dos maiores beneficiários do mercado interno, não ficarão bem sozinhos se o resto da Europa estiver mal", advertiu.
A pandemia já provocou mais de 271 mil mortos e infetou mais de 3,8 milhões de pessoas em 195 países e territórios.
A Europa contabiliza 153 mil mortos, entre mais de 1,6 milhões de casos confirmados.
Em Portugal, morreram 1.114 pessoas das 27.268 confirmadas como infetadas, e há 2.422 casos recuperados, de acordo com a Direção-Geral da Saúde.
O "Grande Confinamento" levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3% em 2020, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona euro e de 5,2% no Japão.
Para Portugal, o FMI prevê uma recessão de 8% e uma taxa de desemprego de 13,9% em 2020.
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