Coronavírus

OMS e Anthony Fauci contrariam Trump. “Não há provas de que o vírus tenha sido criado artificialmente em laboratório”

Anthony Fauci e Donald Trump
Anthony Fauci e Donald Trump
MANDEL NGAN/AFP/Getty Images

Donald Trump já garantiu mais do que uma vez ter provas de que o vírus teve origem num laboratório chinês e, no domingo, o secretário de Estado norte-americano disse o mesmo. A teoria não colhe, no entanto, o apoio nem da Organização Mundial da Saúde nem de Anthony Fauci, médico que pertence ao grupo de trabalho formado pela Casa Branca para lidar com a pandemia de covid-19

OMS e Anthony Fauci contrariam Trump. “Não há provas de que o vírus tenha sido criado artificialmente em laboratório”

Helena Bento

Jornalista

Anthony Fauci, médico que pertence ao grupo de trabalho formado pela Casa Branca para lidar com a atual pandemia, afirmou que não há provas de que o vírus tenha sido criado em laboratório — conforme alegou Trump mas também o seu secretário de Estado, Mike Pompeo — e a Organização Mundial da Saúde (OMS) disse o mesmo. Segundo esta entidade, os EUA não apresentaram qualquer prova de que o vírus tenha sido criado de forma artificial na cidade chinesa de Wuhan.

O Presidente norte-americano já garantiu mais do que uma vez ter provas de que o vírus teve origem em laboratório e, no domingo, Pompeo reforçou publicamente essa teoria. No entanto, nenhuma dessas provas chegou ainda à OMS, conforme salientou Michael Ryan, diretor de emergências da organização. Por isso, “tudo isto é, na nossa perspetiva, apenas especulativo”, afirmou também, citado pelo jornal britânico “The Guardian”.

Da natureza para espécies animais, é a teoria de Anthony Fauci

Em entrevista à “National Geographic”, Anthony Fauci, que é diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA, afirmou que as provas até ao momento recolhidas não só contrariam a teoria de Trump, como apontam precisamente para o contrário, para que o vírus “tenha evoluído na natureza e sido transmitido depois para espécies animais”. “Se olharmos para a evolução do vírus nos morcegos e para as evidências científicas que temos, percebemos que tudo, mas tudo mesmo, aponta para que o vírus não possa ter sido criado artificialmente ou deliberadamente manipulado”, afirmou. O mesmo disse, esta terça-feira, o primeiro-ministro australiano, Scott Morrison. Segundo ele, “o mais provável” é que tenha mesmo acontecido aquilo que tem vindo a ser dito até agora, isto é, que o vírus teve origem num mercado em Wuhan.

Na segunda-feira, foi publicado no site da televisão estatal chinesa CCTV um artigo de opinião a criticar as acusações “insanas e evasivas” dos EUA. O jornal “Global Times” também publicou um editorial a acusar Pompeo e Trump de “fazer bluff”, uma vez que não há provas do que quer que seja. “Se Washington tem provas sólidas, então deveria permitir que institutos de investigação e cientistas as examinem.”

Ainda na entrevista à “National Geographic”, Fauci disse-se também preocupado que o país possa enfrentar um segundo surto de covid-19, este outono ou inverno, sem ter conseguido diminuir até lá a taxa de infeção. E chamou a atenção para a necessidade de os EUA não só realizarem testes em número “adequado” antes de um eventual segundo surto, mas também criarem um sistema que permita que esses testes cheguem aos que mais precisam deles. “Não acho que o vírus vá simplesmente desaparecer. Vai andar por aí e, se tiver oportunidade, irá ressurgir.”

O médico, que é diretor do Instituto Nacional de Alergias e Doenças Infecciosas dos EUA, disse ainda que durante o verão o país deveria focar-se em reforçar o serviço de saúde, garantindo que há camas, ventiladores e equipamento de proteção individual em número suficiente.

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