Coronavírus

Covid-19. Seis em cada 10 pessoas admitem “alguma fricção” familiar durante confinamento, aponta estudo da Deco

Em abril, 160 casais quiseram pôr fim à relação, menos 86% (972) do que no mês homólogo de 2019.
Em abril, 160 casais quiseram pôr fim à relação, menos 86% (972) do que no mês homólogo de 2019.
skynesher

Quase 60% da população ativa está a sofrer redução de rendimentos devido à perda de emprego ou à diminuição do trabalho como consequência da pandemia covid-19, segundo os resultados do mesmo inquérito

Seis em cada 10 pessoas que coabitam com outras têm passado "por algumas situações de fricção" sobretudo devido à partilha de tarefas domésticas ou por estarem confinados no mesmo espaço o dia inteiro, mostra um estudo da Deco Proteste.

Este é um dos resultados do último inquérito realizado pela Deco -- associação de defesa do consumidor relacionado com o impacto da pandemia covid-19 na população.

Sobre as alterações no ambiente em casa, o inquérito, realizado entre os dias 17 e 20, revela que 60% dos inquiridos que coabitam com outras pessoas afirmam ter passado "por algumas situações de fricção, sobretudo, devido à partilha de tarefas domésticas ou por estarem no mesmo espaço durante todo o dia".

"As diferenças de opinião sobre as medidas de prevenção da covid-19 a adotar são outros rastilhos incendiários" e, nos agregados com crianças, "o acompanhamento escolar é também é foco de conflito, segundo 28% dos inquiridos", indica a Deco.

Por outro lado, 45% dos portugueses que coabitam com outros revelam que as restrições à mobilidade tiveram um impacto positivo no relacionamento familiar, sobretudo em agregados que incluem casais com filhos menores.

"O bom ambiente familiar é útil, mas não elimina as mazelas na saúde provocadas pelo confinamento", indica a associação, apontado que seis em cada 10 inquiridos, com destaque para as mulheres, assinalaram que as restrições à mobilidade prejudicam o seu bem-estar psicológico.

O medo de contrair covid-19 impediu, por sua vez, que um quarto dos inquiridos que tiveram um problema grave de saúde se deslocassem ao hospital, arriscando-se a que a situação evoluísse sem retorno.

A falta de atividade física e a ingestão de maior quantidade de comida, incluindo 'snacks' doces e salgados foi referida por 39% dos portugueses inquiridos pela associação de defesa do consumidor.

Seis em cada 10 afirmam ir menos vezes ao supermercado pessoalmente, sendo que 49% diz frequentar menos os mercados tradicionais e 44% o comércio local.

"Por terem maior disponibilidade ou já fruto da redução dos rendimentos, cerca de um quinto dos inquiridos presta, agora, mais atenção aos preços dos produtos, e um terço afirma aproveitar sobras de refeições anteriores", diz a Deco.

A grande maioria (oito em cada 10) revela não desperdiçar comida, quase o triplo dos que o faziam no início deste ano.

Apenas 6% dos inquiridos afirmam não ter saído de casa uma única vez na última semana.

Segundo a Deco, "a grande maioria saiu para comprar alimentos, medicamentos ou outros produtos, sendo que quatro em cada 10 o fez mais do que uma vez por semana".

Quase metade foi passear ou correr nas redondezas da habitação, conforme previsto nas medidas do estado de emergência, mas 10% saiu da sua área de residência.

"Os prevaricadores são, sobretudo, os mais jovens, entre os 18 e os 30 anos" e são também os que "mais contrariam a regra de evitar os contactos sociais" já que cerca de um quarto confessou ter saído para se encontrar com familiares ou amigos.

Na população em geral, 12% tiveram o mesmo comportamento, segundo o estudo.

"Quem vive sozinho também é mais propenso a quebrar o isolamento, arriscando o contágio", pelo que a Deco defende que deve ser feita "alguma reflexão numa altura em que se fala em levantar as restrições impostas pelo estado de emergência".

Quase 60% da população ativa sofre redução de rendimentos

Quase 60% da população ativa está a sofrer redução de rendimentos devido à perda de emprego ou à diminuição do trabalho como consequência da pandemia covid-19, segundo os resultados deste mesmo inquérito, publicado esta segunda-feira.

Segundo o estudo, a vaga de desemprego causada pela crise relacionada com a pandemia tem atingido três vezes mais mulheres do que homens, com 13% e 4% respetivamente.

"Uma em cada 10 famílias viu, pelo menos, um dos elementos perder o trabalho" e "até ao momento, 4% dos agregados têm os dois membros do casal sem atividade profissional", pode ler-se nas conclusões do estudo.

O estudo mostra que 35% dos trabalhadores mantêm o seu horário de trabalho, 30% estão temporariamente inativos, por exemplo, em 'lay-off' (suspensão do contrato), enquanto 19% viram o seu horário reduzir-se, 9% perderam o emprego e apenas 7% estão a trabalhar mais horas.

Dos que continuam a trabalhar, três em cada 10 fazem-no sempre a partir de casa, em teletrabalho, e cerca de um quinto (19%) labora parcialmente nestas condições -- por exemplo, algumas empresas têm equipas rotativas em teletrabalho.

Por seu lado, mais de metade (51%) dos que trabalham não estão em regime de teletrabalho.

"A maioria dos teletrabalhadores diz que a nova forma de trabalhar não altera, ou até melhora, os níveis de atividade, bem como o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal", conclui a Deco.

Contudo, 38% dos inquiridos em teletrabalho indica que a sua concentração diminuiu e 37% consideram-se menos eficientes, com a situação a piorar nos casos em que há crianças e jovens em casa.

O inquérito da Deco foi realizado entre 17 e 20 de abril através de um questionário 'online', tendo a associação recebido 1.008 respostas e segue-se a um outro, publicado em meados de março, que concluía que o prejuízo total das famílias já rondava naquela altura os 1,4 mil milhões de euros.

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