Coronavírus

Apoios aos media: compra de espaço publicitário pelo Estado fica “muito aquém do justo e necessário”, dizem os grupos de media privados

Plataforma de Media Privados considera que os 15 milhões de euros anunciados pelo governo para compra antecipada de espaço de publicidade institucional "pouco ou nada acrescenta às verbas tradicionalmente inscritas em sede orçamental para os mesmos fins". Sindicato dos Jornalistas considerou a medida positiva mas insuficiente.

Apoios aos media: compra de espaço publicitário pelo Estado fica “muito aquém do justo e necessário”, dizem os grupos de media privados

Pedro Lima

Editor-adjunto de Economia

A Plataforma de Media Privados (PMP), que junta os grupos Cofina, Global Media, Impresa, Media Capital, Público e Renascença, considera que o valor anunciado pelo governo para a compra antecipada de publicidade institucional – 15 milhões de euros – “fica muito aquém do justo e necessário, pouco ou nada acrescentando às verbas tradicionalmente inscritas em sede orçamental para os mesmos fins”.

Esta medida foi anunciada esta sexta-feira em conferência de imprensa, pela ministra da Presidência, Mariana Vieira da Silva, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, e o secretário de Estado do Cinema Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva, como forma de apoiar os grupos de comunicação social que se veem a braços com fortes quedas das receitas de publicidade na sequência da pandemia de convid-19.

Em comunicado, a PMP refere que “a moldura prevista, na forma de antecipação de gastos publicitários institucionais, corresponde a uma das medidas propostas pela PMP na sua tomada de posição pública de 24 de Março. Sem vacilar perante as suas obrigações de interesse público e recusando assistencialismos, a PMP vem pugnando pela compensação urgente das brutais quebras de receitas a que os media se têm visto sujeitos. Um dos mecanismos mais adequados é a aquisição de espaço institucional”.

Acrescenta que “no atual contexto de crise sanitária, os media se têm prontificado, sem reservas, à divulgação ampla de informação de interesse público. Registamos, assim, a declaração do Governo de que esta é uma medida transitória e que será revisitada em função das necessidades”.

Esta compra antecipada de espaço para publicidade do Estado nos meios de comunicação social privados é “três vezes superior” ao que o governo tinha orçamentado no final do ano passado, disse a ministra da Cultura na conferência de imprensa desta sexta-feira. Graça Fonseca disse que na próxima semana será definida a forma como esses 15 milhões de euros serão atribuídos aos grupos de comunicação social, sendo que 75% se destina a órgãos de comunicação social nacionais e 25% a órgãos regionais e locais. A expectativa do governo é que o dinheiro seja entregue aos grupos de comunicação social daqui a duas semanas.

A PMP tem, no entanto, dúvidas sobre a forma como será feita essa atribuição. “A modalidade de atribuição da verba anunciada está ainda por clarificar. Esperamos que os critérios de repartição sejam os mais corretos, como vimos defendendo, e que os mecanismos burocráticos do Estado não dificultem a sua fluidez. Pressupomos igualmente que os preços de contratação serão, no mínimo, equivalentes aos médios de mercado. Preocupa-nos, por fim, o número e a natureza das entidades que serão chamadas a regular este processo”, referem os grupos privados no comunicado divulgado ao final da tarde desta sexta-feira.

Ainda assim, registam a disponibilidade do governo para preparar o “futuro” dos media, atendendo a que esta é vista como uma primeira medida – imediata – de um lote de medidas consideradas necessárias para combate a crise que a comunicação social já estava a viver antes da pandemia. “O ‘dia seguinte’, conforme referido pelo Governo, onde todo o cenário da indústria dos media e da sua relação com o Estado será reavaliado, é imperativo e representa uma oportunidade para a qual a PMP manifesta a sua disponibilidade. Para isso, será necessário ultrapassar as dificuldades do presente e encarar o futuro próximo numa perspetiva de progresso e reparação das injustiças a que nos vemos sujeitos. Seria inútil uma mão cheia de nada”, acrescenta a PMP.

Entre as medidas pedidas pela PMP a 24 de março estavam a flexibilização dos regimes de manutenção dos postos de trabalho e lay-off para todo o sector e a aplicação de IVA a taxa zero em assinaturas de publicações periódicas informativas digitais, serviços de distribuição dessas publicações em papel, bem como a suspensão da liquidação de IVA pelos pontos de venda durante quatro meses. Os grupos de media pediam ainda a "forte aquisição, por parte do Estado, de espaço publicitário, a preços de tabela, em todos os meios e plataformas", a regularização dos créditos com empresas de media e a comparticipação nos gastos de energia dos emissores de radiodifusão.

Propuseram também que, até ao final do ano, se eliminem as taxas da ERC - Entidade Reguladora para a Comunicação Social, da Anacom e de exibição / audiovisual (4% das receitas) e que se aumente o investimento na produção de conteúdos nacionais, entre outras medidas. Além disso, a PMP recordava que a tributação das plataformas digitais de multinacionais que operam no mercado português “é um tema que, inexplicavelmente, tem sido ignorado, em prejuízo da decência fiscal e do funcionamento são do mercado”. E pediam ao Governo para avançar com a aplicação de impostos sobre as mesmas.

Sindicato dos Jornalistas: medida positiva mas insuficiente

Reagindo também à medida anunciada, o Sindicato dos Jornalistas (SJ) considerou “positivo o apoio de emergência ao sector da comunicação social anunciado hoje pelo Governo, mas realça que não é suficiente e que se impõem medidas de médio e longo prazo para responder a uma crise estrutural, agora agravada com o contexto da pandemia de covid-19”.

Em comunicado, o sindicato disse também que “saúda que a Literacia para os Media esteja entre os temas das campanhas institucionais que farão parte desse pacote de publicidade institucional antecipado”. E “junta-se ao Governo no destaque do papel do jornalismo e dos jornalistas para o sucesso da campanha sanitária em resposta à pandemia de covid-19”.

A ministra da Cultura disse na conferência de imprensa que o sucesso do combate à pandemia que se está a verificar em Portugal também se deve à cobertura noticiosa do tema. “A forma como a informação sobre saúde pública e os cuidados que é necessário ter tem chegado às pessoas é um elemento muito importante para este sucesso da situação epidemológica em Portugal”, afirmou Graça Fonseca.

Na conferência de imprensa o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media disse que continua a trabalhar em medidas para o sector. “Na defesa de um jornalismo livre, independente e plural, o SJ afirma-se disponível para continuar a dialogar com o Ministério da Cultura, nomeadamente com o secretário de Estado do Cinema, Audiovisual e Media, que se comprometeu – o que é de louvar – em passar, desde já, a discutir sobre as medidas a adotar no futuro para apoiar o sector”, acrescenta o sindicato.

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