16 abril 2020 18:03
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Compras online no sector alimentar, de eletrónica e retalho crescem durante a pandemia. Desafios logísticos dos grandes retalhistas trazem novas oportunidades de negócio
16 abril 2020 18:03
O isolamento social gerado pela pandemia do novo coronavírus tem levado a que os portugueses passem cada vez mais tempo online. De acordo com uma análise da empresa Group M – que agrega o grupo de agências de meios da WPP –, os portugueses assumem passar mais 62% do seu tempo na internet.
Questionados sobre onde gastam mais tempo, 17% dos portugueses referem as compras online de supermercado e 15% as restantes compras na internet. Em particular, destaca-se, durante o mês de março, o crescimento de 513% ao nível das pesquisas para compras online, especialmente ao nível do sector alimentar, mas também de casa e decoração e de eletrónica.
Na verdade, os portugueses já compram e gastam mais na internet. Até 20 de março, 10% afirmava comprar mais online. Cresce assim o número de compras nas áreas de entretenimento, cultura e subscrições (mais 60%), comércio alimentar e retalho (mais 41%) e restauração, entregas de comida e takeaway (mais 40%).
“O impacto da covid-19 e das medidas mais importantes tomadas pelo Estado influenciaram positivamente os crescimentos dos verticais alimentar, eletrónica e retalho, facto este que as marcas podem aproveitar para alavancar vendas online”, conclui a empresa na análise. Na área tecnológica, aumentaram as vendas de impressoras e computadores na primeira semana de março e, nas seguintes, as de impressoras, consolas e aspiradores.
A Group M identifica ainda seis tendências potenciadas pela pandemia. Entre elas, estão o aumento da utilização de formas de pagamento por contactless ou cashless, foco no sentido de união, partilha e cuidado com o próximo (movimentos de apoio a vizinhos, por exemplo), o shoppable streaming (que junta e-commerce, redes sociais e entretenimento) e o maior destaque de marcas que assumem um papel de assistência à sociedade (ao nível do bem-estar físico e mental).
Além disso, “a pandemia incrementou ainda mais a urgência na partilha de dados em tempo real e respostas em consonância” e, “perante o desafio logístico das retalhistas, assiste-se a movimentos de desintermediação das mesmas, com destaque para players locais”.
Crise traz novas oportunidades de negócio
Se é certo que se tem registado uma maior apetência dos portugueses pelas compras online, também é verdade que o sentimento dos portugueses em relação aos retalhistas, compras online e entregas ao domicílio tem vindo a tornar-se mais negativo, nota a Group M numa análise aos comentários nas redes sociais. Especialmente por causa das filas de espera nos supermercados, entregas só passado um mês, cuidados a ter nas idas ao supermercado e queixas de burlas no Portal da Queixa, entre outros fatores.
Na verdade, as lojas online enfrentam atualmente grandes desafios logísticos, nota o relatório. Isto porque o e-commerce dos grandes retalhistas se encontra sobrecarregado (com filas de espera de horas, em alguns casos), registando-se perturbações no stock (o que limita a variedade de artigos) e no transporte (com os tempos de espera para entregas em casa a aumentarem de uma semana para um mês).
Além disso, devido ao maior fluxo de entregas diárias, os centros logísticos deparam-se ainda com desafios em termos de recrutamento e de segurança e higiene e os prazos e processos de devolução tiveram de ser ajustados.
É por isso que se torna necessário, com já fazem alguns retalhistas, fazer uma gestão de filas de espera online, garantir bens essenciais (apesar da menor variedade), oferecer portes grátis, disponibilizar apenas pagamentos online e prolongar os prazos das devoluções.
Esta é também uma oportunidade para o surgimento de novos negócios, que já começam a despontar, aponta a Group M. O El Corte Inglés criou um mini-supermercado online para entrega de bens essenciais em todo o país (com redução de extensão e profundidade de linha de produtos), a Worten abriu o Drive Thru, que permite recolher encomendas feitas por telefone sem sair do carro, a Makro opera temporariamente como grossista e retalhista e ajuda os estabelecimentos no serviço de takeaway e entregas e a 360imprimir anunciou esta semana o supermercado online 360hyper, que para já conta com uma parceria com o Recheio.
Já a Glovo e a Uber Eats estão a fazer entregas em casa de compras de supermercado e de parafarmácia, a Uber a entregar encomendas dos CTT e a McDonald’s a partilhar funcionários com o Aldi.