Coronavírus

Covid-19. indústria portuguesa do calçado já está a pensar no pós pandemia

Covid-19. indústria portuguesa do calçado já está a pensar no pós pandemia
LUCÍLIA MONTEIRO

O mundo está a comprar menos sapatos e a indústria portuguesa sofre. No fim do mês, 40% das empresas já estarão fechadas, diz associação industrial a começar a preparar novo plano de ataque

Em ano de pandemia e teletrabalho, o mundo vai comprar menos sapatos. A quebra do consumo mundial de calçado em 2020 poderá atingir 22,5% ou 5,1 milhões de pares, indica o inquérito sobre a evolução do negócio World Footwear Business Conditions Survey 2020.

As contas não são simples e não há números para Portugal, mas a tradução direta desta percentagem de 22,5% na produção nacional do sector do calçado implicaria uma quebra de 16 milhões de pares num ano. Este valor pode tornar-se real? E, a confirmar-se, qual seria o impacto no sector? A APICCAPS, associação da fileira do calçado responde, apenas, que de momento "é impossível fazer previsões, até porque não se sabe qual será a duração da pandemia".

"São números preocupantes e confirmam que este será um ano muito duro para o sector e as empresas ", diz ao Expresso Paulo Gonçalves, diretor de comunicação da associação, assumindo que, em casa, as pessoas não compram mesmo sapatos, nem em lojas online.

O estudo, realizado com o painel internacional de especialistas do World Footwear, um projeto de avaliação das macrotendências do setor lançado há 11 anos pela APICCAPS confirma, assim, que "o impacto da pandemia da covid-19 irá penalizar fortemente o setor de calçado" este ano.

"Desde a edição anterior deste boletim, publicada em janeiro, a epidemia enfraqueceu fortemente a economia mundial" e 3 em cada 4 dos membros do painel espera um recuo no número de pares comercializados nos próximos seis meses. Metade dos inquiridos, de 43 países, também prevê uma quebra nos preços, diz este estudo que procura recolher e analisar informações sobre as condições atuais de negócios nos mercados mundiais de calçado e fornecer uma visão precisa da situação da indústria no plano internacional.

Ordem para mudar o chip

Os dados recolhidos indicam que o cenário mais negativo ocorrerá, precisamente, na Europa, com uma perda estimada de 27% (menos 908 milhões de pares comercializados). A América do Norte, com um recuo de 21% (696 milhões de pares) e Ásia, onde a queda prevista é de 20% (2 400 milhões de pares), também serão fortemente afetados.

E a análise deste ponto é mais um fator de preocupação para a indústria nacional que tem na Europa o seu principal cliente e depositava grandes esperanças nos EUA e na Ásia para crescer fora da Europa. "Tudo isto acontece num ano que tinha começado da melhor maneira, com números que deixavam adivinhar o melhor exercício dos últimos cinco anos", refere Paulo Gonçalves, admitindo que 40% das empresas do sector estarão fechadas no fim do mês e, destas, dois terços recorrem ao layoff e "de pouco serve ter as empresas mais modernas do mundo quando elas estão fechadas".

Quanto ao futuro, diz, importa estar atento a sinais de um possível regresso à normalidade, como o que vem da vizinha Espanha, onde as lojas poderão voltar a abrir em junho. Mas na associação também há trabalho de casa que começa a ser feito para o pós-pandemia, a começar nos apoios ao investimento na promoção de marcas e vendas online que envolviam atualmente um pacote de dois milhões de euros e "será necessariamente reforçado". "Temos de investir muito neste ponto, decisivo para as nossas empresas se afirmarem agora e poderem competir no mercado internacional", defende. E conclui: "No pós covid-19, vai ser preciso mudar este chip e colocar definitivamente o foco no marketing e no digital. A estratégia passa por aí e é nesses pontos que estamos já a trabalhar".

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: mmcardoso@expresso.impresa.pt

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