Coronavírus

Covid-19 reaproxima Costa e UGT. Parceiros sociais chamados a São Bento

Covid-19 reaproxima Costa e UGT. Parceiros sociais chamados a São Bento
José Coelho/Lusa

António Costa reúne-se primeiro com os representantes dos patrões e depois com os líderes sindicais. Vão todos a São Bento esta quarta-feira saber como o país está a enfrentar a pandemia de covid-19. O novo vírus acabou com a guerra aberta mantida há meses entre o primeiro-ministro e o secretário geral da UGT

Depois de quatro anos a tentar ter uma reunião com o primeiro-ministro, o secretário-geral da UGT vai, finalmente, esta quarta-feira à tarde a São Bento para um "encontro de trabalho" com António Costa. O estado de emergência em que o país entrou em virtude da pandemia de covid-19 pôs fim a uma longa guerra que levou mesmo o sindicalista - e dirigente do PS - a ameaçar "fazer pagar caro" ao Governo as "humilhações" e "desconsiderações" de que a UGT se considerava alvo por parte de António Costa.

Carlos Silva e a delegação da UGT são os últimos a ser recebidos em São Bento, numa ronda que começa às 15h com os representantes de todas as confederações patronais. De seguida, pelas 16h30, é a vez da delegação da CGTP (é a estreia de Isabel Camarinha como líder da Intersindical na residência oficial do primeiro-ministro) e, uma hora depois, a UGT.

O encontro entre Costa e o líder da UGT põe termo a um longo jejum que dura precisamente desde novembro de 2015, altura da tomada de posse do Governo da 'geringonça'. O sindicalista e há 40 anos militante socialista Carlos Silva tentou por diversas vezes um encontro com o primeiro-ministro mas sem êxito. A última tentativa foi feita no final de janeiro, quando se ultimava a discussão do OE e, depois de Costa ter remetido o sindicalista para o gabinete da ministra do Trabalho, estalou definitivamente o verniz entre os dois. Carlos Silva veio falar em "desresrespeito" e "desconsideração", considerou-se vítima de "uma bofetada de luva de boxe" e deixou a ameaça: "a UGT pode fazer pagar caro por esta desconsideração".

O coro de vozes críticas estendeu-se dentro das hostes socialistas, com Paulo Pedroso a condenar o "desinteresse do PS pelo sindicalismo" e João Proença, ex-líder da UGT, a considerar "lamentável" a posição de António Costa.

Parceiros preocupados

A reunião dos parceiros sociais com o primeiro-ministro surge num momento em que tanto patrões como sindicatos mostram a sua preocupação pelo impacto social e económico que o combate à pandemia acarreta. Do lado sindical as principais preocupações têm sido relativas aos abusos praticados, depois da declaração do estado de emergência e que levou já mais de 20 mil empresas e perto de 600 mil trabalhadores a recorrerem ao lay-off. A par disto têm sido abundantes as denúncias de casos de abusos no despedimento de trabalhadores ou no recurso a estratégias de imposição, seja do recurso ao gozo obrigatório dos dias de férias ou da passagem à situação de licença sem vencimento, como formas de manutenção dos vínculos laborais.

Da parte dos empregadores a tónica tem sido colocada na necessidade de reforçar as medidas de apoio às empresas. Depois mesmo de o Governo ter avançado com um pacote especial de incentivos diretos, o líder da principal confederação patronal, António Saraiva, veio apresentar um conjunto adicional de medidas no valor global de 20 milhões a fundo perdido para fazer face às necessidades das empresas. A CIP aplaudiu as propostas do Governo mas considerou-as "insuficientes para travar a crise que se adivinha". Já o presidente da Confederação do Turismo assumiu que o sector "está debaixo de água" e avançou já com a possibilidade de "mais de 90% das empresas turísticas nacionais" poderem vir a ter "vendas zero em abril e maio".

A Confederação do Comércio também exige mais medidas de apoio por parte do Estado, nomeadamente que o Governo venha a assumir (em vez de permitir o adiamento) o pagamento integral das rendas dos estabelecimentos comerciais que venham a sofrer perdas superiores a 40% em virtude do surto do novo coronavírus. Em comunicado, a confederação considerou mesmo "inaceitável o profundo desprezo a que foi votado o sector do comércio e de muitos serviços” no conjunto de medidas de apoio já apresentadas pelo Governo.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: RLima@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate