Coronavírus

Vacina daqui a cinco meses? Investigadora de Oxford mostra-se "80% confiante"

Vacina daqui a cinco meses? Investigadora de Oxford mostra-se "80% confiante"
CJ GUNTHER/EPA

Uma conhecida investigadora britânica na área da vacinação explicou ao diário britânico "The Times" que há uma possibilidade real de que uma vacina contra este novo coronavírus seja possível antes das datas que estavam a ser avançadas por outros especialistas. A farmacêutica Gilead também publicou um estudo com um dos seus antivirais que mostra bons resultados contra a covid-19

Vacina daqui a cinco meses? Investigadora de Oxford mostra-se "80% confiante"

Ana França

Jornalista da secção Internacional

Sarah Gilbert, investigadora da Universidade de Oxford, disse ao diário britânico “The Times” que está "80% confiante" que uma vacina que a sua equipa está a desenvolver funciona e “pode estar pronta em setembro”. É uma perspectiva bastante otimista, principalmente comparando com a de tantos especialistas que têm tentado dosear as expectativas nesta fase em que a vacina parece mesmo ser a única solução para o fim deste estado de emergência mundial que vivemos.

Neste momento, o consenso é que uma vacina para o novo coronavírus pode levar entre 12 a 18 meses a estar disponível, na melhor das hipóteses. Mas esta equipa tem outros dados: “Não é apenas um palpite, e a cada semana que passa temos mais dados para analisar", disse Gilbert ao jornal londrino.

De acordo com a investigadora, em duas semanas a potencial vacina estará pronta para começar a ser testada em humanos. O que significa que “se tudo correr de forma perfeita”, é possível que em setembro, daqui a apenas cinco meses, já seja possível começar a inocular a população. “Ninguém pode prometer que vai funcionar”, disse, acautelando qualquer problema que possa surgir.

A teoria da professora pressupõe também que mais pessoas possam “deixar-se infectar” para que os “testes clínicos” sejam mais rápidos, uma opinião que pode chocar algumas pessoas mas pode também revelar-se necessária. Tudo seria feito, segundo Gilbert, apenas com quem quisesse voluntariar-se para o teste. Os locais com menos medidas de restrição são um público-alvo ideal: "Se um desses locais tiver uma alta taxa de transmissão de vírus, obteremos os nossos resultados muito rapidamente, de modo que essa é uma estratégia para reduzir o tempo", disse Gilbert acrescentando que, apesar de ser contra a imunidade de grupo, porque deixa desprotegidos os mais vulneráveis, “o bloqueio total de movimentos dificulta” o trabalho de quem está à procura de uma vacina. A ideia é que “os voluntários para estes testes sejam expostos apenas para testar a eficácia da vacina".

Sarah Gilbert também explicou que, para haver doses suficientes da vacina no início do outono, o governo britânico vai ter de dar um “salto de fé” e iniciar a produção antes de a eficácia da vacina estar comprovada. “Não queremos chegar ao fim do ano e descobrir que temos uma vacina altamente eficaz mas não temos nenhuma vacina para usar”, argumentou a investigadora, citado pelo “The Times”.

Estudo com antiviral para ébola mostra bons resultados

A farmacêutica norte-americana Gilead apresentou entretanto um estudo, feito com um dos seus medicamentos, o remdesivir, que ainda não está a aprovado para uso em nenhum país do mundo, onde os pacientes com casos mais graves de covid-19 parecem ter demonstrado uma melhoria significativa na sua condição de saúde. Os resultados publicados no “New England Journal of Medicine” mostram que 36 dos 53 doentes que participaram no estudo, e que estavam sob ventilação mecânica no seu início, incluindo quatro pacientes também em Oxigenação por Membrana Extracorporal (ECMO), apresentaram melhorias na sua condição pulmonar. Mais de metade dos 30 pacientes que estavam em ventilação mecânica puderam abdicar desse apoio depois de serem tratados com este medicamento (57%, 17 pessoas) e quase metade de todos os pacientes (47% ou 25 pessoas) recebeu alta do hospital após o tratamento com remdesivir.

O remdesivir é um antiviral originalmente desenvolvido para lutar contra o ébola, mas nunca foi aprovado. Este estudo não teve um grupo comparativo, ou seja, não foi observada, ao mesmo tempo, uma população com as mesmas características daquela que recebeu o antiviral mas que não o tenha tomado.

“Atualmente não há tratamento comprovado para a covid-19. Não podemos tirar conclusões definitivas desses dados, mas as observações desse grupo de pacientes hospitalizados que receberam remdesivir dão-nos algumas esperança", escreveu Jonathan Grein, diretor de epidemiologia hospitalar do Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, principal autor do estudo, no artigo do “New England Journal of Medicine”.

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