Giuseppe Conte não desiste de lutar pela emissão de dívida conjunta, sejam eurobonds ou coronabonds. O primeiro-ministro-italiano insiste na opção rejeitada pela Alemanha e recusa uma das soluções que Berlim põe à troca: o acesso a empréstimos do Mecanismo Europeu de Estabilidade (MEE), o fundo de resgate da Zona Euro.
"MEE não. Eurobonds seguramente que sim", afirmou esta segunda-feira à noite. Para o chefe do Governo italiano, o mecanismo de onde saiu o dinheiro para o terceiro resgate à Grécia "é um instrumento absolutamente inadequado" para responder à crise económica que se está a formar devido à pandemia de Covid19. E contrapõe: a mutualização da dívida, sim, é "uma resposta séria, eficaz, adequada à emergência" que a Europa está a viver.
Não é de agora a relutância de Itália em relação ao Mecanismo Europeu de Estabilidade. No final de 2019, o Governo de Roma opôs-se e adiou a reforma do tratado do Fundo de que são credores todos os países da Zona Euro. Internamente, o MEE gera polémica e um dos grandes críticos deste instrumento intergovernamental é Matteo Salvini, o líder da Lega, o partido nacionalista que está agora na oposição.
A criação de linhas de crédito do MEE, disponíveis para todos os países do Euro, é uma das opções que está a ser trabalhada pela equipa do Presidente do Eurogrupo, Mário Centeno, e que deveria ter o acordo dos ministros das Finanças da Zona Euro durante a reunião desta terça-feira. De acordo com fontes europeias, o consenso tem estado próximo, principalmente desde que a Alemanha aceitou que o acesso aos empréstimos do fundo de resgate se fizessem com a menor condicionalidade possível, ou seja, sem imposição de reformas ou austeridade.
Ao que o Expresso apurou, também a Holanda continua a querer mais clarificações para aceitar o consenso. A questão mais polémica para Haia é precisamente a definição da condicionalidade.
A questão passa agora por saber se Itália trava todo o processo ou acaba por aceitar o consenso, permitindo que outros países possam recorrer ao financiamento do MEE. A própria Espanha - que também defende a mutualização de dívida e coronabonds - está disponível para aceitar esta opção, tal como Portugal.
Os ministros das Finanças da Zona Euro debatem o assunto esta terça-feira a partir das 14 horas - hora de Lisboa - por videoconferência, num encontro que conta também com os homólogos dos países da UE que não têm moeda única.
Do encontro deverá sair um relatório para enviar aos líderes europeus. O documento deverá incluir, ainda, outras ferramentas de resposta conjunta à crise, como o aumento da capacidade de empréstimo do Banco Europeu de Investimento - até 200 mil milhões de euros para apoiar empresas - ou o novo instrumento proposto pela Comissão Europeia, que prevê 100 mil milhões de euros em empréstimos aos países para que financiem os programas nacionais de apoio à manutenção de emprego, incluindo regimes de lay off.
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