As autoridades de saúde portuguesas podem, em breve, começar a usar o sangue dos que recuperaram da Covid-19 para tentar salvar outros pacientes. O tratamento encontra-se ainda na fase de estudo clínico mas os primeiros sinais são encorajadores.
Em declarações ao Diário de Notícias, Maria Antónia Escoval, presidente do Instituto Português do Sangue e Transplantação (IPST), garante estar a acompanhar o que vai sendo feito na China, Espanha ou Itália e que, se se mostrar eficaz, a terapêutica será usada em Portugal. "Não estamos a ficar para trás, estamos a preparar-nos para a podermos usar como mais uma das opções disponíveis no tratamento a esta epidemia. [Mas] ainda estamos numa fase inicial e ainda não podemos avançar com uma data precisa para o seu início."
Na prática, é feita uma transfusão do plasma do doente recuperado, reforçado em anticorpos, para a pessoa infetada, técnica usada para combater outras doenças e que já foi experimentada, com relativo sucesso, durante outras epidemias. Ao mesmo Diário de Notícias, Maria Antónia Escoval explica que a colheita de sangue "só poderá ser feita a partir de um período de 28 dias após o doente ter registado dois testes negativos" e terá de obedecer a critérios rigorosos de seleção de doentes dadores, tendo estes de dar o seu consentimento para participar neste procedimento.
Já foi criado um grupo de trabalho no IPST, “que tem como missão elaborar protocolos e harmonizar procedimentos para depois serem discutidos com a Direção-Geral da Saúde (DGS) e o Instituto Nacional de Saúde Ricardo Jorge (INSA)”. “Depois passaremos à fase de discussão com os hospitais que têm as maiores colheitas e que, no fundo, são mais representativos em termos de transfusão", nota a mesma responsável. “Ainda é só um ensaio clínico, mas é uma mensagem de esperança para a população, porque tem dado bons resultados”, remata.
Tal como Expresso adianta este sábado, os investigadores portugueses estão já desenvolver testes para saber quantas pessoas já ganharam imunidade ao novo coronavírus.
É o caso do Instituto de Medicina Molecular (IMM) da Universidade de Lisboa, do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC) e do Instituto de Biologia Experimental e Tecnológica (iBET) que estão a desenvolver em conjunto testes serológicos que permitam precisamente avaliar a imunidade da população. Se a investigação avançar ao ritmo esperado, sem contratempos, é possível que dentro de “duas a três semanas tenhamos as provas de conceito, isto é um modelo que nos permita dizer com segurança que funciona e que permite tirar conclusões para este fim específico, e a partir daí começar a produzir em massa”, antecipa a diretora do IMM, Maria Manuel Mota.
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