Coronavírus

O país onde quem desrespeitar as regras será abatido e a certeza de que “o mundo vai mudar”: covid-19, um balanço internacional

Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas
Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas
Ezra Acayan/Reuters

O ponto da situação das últimas horas de combate à pandemia no mundo

Europa

Bruxelas está a estruturar um fundo de 100 mil milhões de euros para garantir ou preservar empregos. Trata-se de um “novo instrumento de apoio temporário para mitigar os riscos de desemprego em casa de emergência, o SURE, que foi projetado para ajudar a salvaguardar postos de trabalho e trabalhadores afetados pela pandemia do novo coronavírus”, explicou o executivo comunitário na proposta.

O comissário europeu do Mercado Interno, Thierry Breton, defendeu que esta crise sanitária, humanitária e económica deve ser o click para a União Europeia ser autossuficiente. Breton está certo de uma coisa: depois da tempestade que vivemos, “o mundo mudará”.

Ainda no contexto da União Europeia e de um tema sensível que tem afastado países do Norte e países do Sul, o primeiro-ministro dos Países Baixos disse que preferia, em vez da emissão de títulos conjuntos ou coronabonds, dar “um presente” aos países europeus em dificuldades. Mark Rutte diz que espera reparar as ligações com Itália e Espanha, uma relação tensa que foi verbalizada por António Costa, definindo a retórica do governante holandês como “repugnante”. Ou “re-pu-gnan-te”.

O ministro das Finanças e vice-chanceler alemão, Olaf Scholz, defende créditos do Mecanismo Europeu de Estabilidade e do Banco Europeu de Investimento, assim como é favorável à criação de um novo seguro de desemprego. O montante mencionado para ajudas europeias ronda os 200 mil milhões de euros.

Itália

O país mais castigado do mundo registou mais 760 mortes e 2.477 novos casos nas últimas 24 horas. No total são já 13.915 as vítimas mortais por covid-19.

Apesar dos 2.477 novos casos, regista-se um abrandamento na taxa de crescimento (3%), um indicador que no início rondava os 15% diariamente. Quase 1.300 dessas novas infeções identificadas foram registadas na Lombardia, a zona mais afetada.

Espanha

Foi mais um recorde diário: 950 mortes num só dia, superando assim as 10 mil vítimas mortais no total. Mais de 8.000 reformados morreram naquele país. O pesadelo espanhol está longe de serenar.

O Ministério da Saúde de Espanha anunciou que os casos confirmados já superam os 110 mil. Há mais de 26.500 cidadãos recuperados.

Esta quinta-feira foi também noticiado pelo “El Mundo” que o Governo de Pedro Sánchez ignorou os avisos da Organização Mundial de Saúde e União Europeia para se precaver e comprar mais material médico. Apesar de ter tomado nota das recomendações num dos seus relatórios sobre a pandemia, o Executivo de Pedro Sánchez não considerou necessário fazer compras adicionais preventivas de material para “garantir a proteção dos trabalhadores da área da saúde”, conforme orientação inscrita num documento da OMS de 3 de fevereiro.

Ainda no campeonato das más notícias: a Espanha registou a maior subida de desempregados num só mês da sua história - 302.265 pessoas inscreveram-se nos serviços de desemprego, aumentando a cifra total para 3,54 milhões.

Alemanha

O país governado por Angela Merkel continua a preparar-se para tempos mais complicados e aumentou para 40 mil o número de camas disponíveis nos cuidados intensivos do país.

O responsável da federação dos hospitais germânicos disse esta quinta-feira que três em cada quatro destas camas estão equipadas com ventiladores.

França

As autoridades francesas deram conta de 471 mortes e 2.116 novos casos nas últimas 24 horas. O país governado por Emmanuel Macron aproxima-se dos 60 mil casos identificados.

França tem 6.489 doentes nos cuidados intensivos (CI), sendo que 472 deles entraram nas últimas 24 horas. Desses internados em unidades de cuidados intensivos, 35% têm menos de 60 anos (60% dos internados têm entre 60 e 80 anos). Há 90 pessoas abaixo dos 30 anos nos CI.

Reino Unido

O Departamento de Saúde britânico contabiliza 33.718 casos confirmados de covid-19, um número que deverá subir bastante, pois os testes vão multiplicar-se. Já morreram 2.921 pessoas, 569 delas nas últimas horas. Quase 150 pessoas já recuperaram.

Esta quinta-feira trouxe também uma sondagem, da IPOS Mori, que revelava que 56% dos britânicos não estão totalmente satisfeitos com a resposta à pandemia por parte do Governo de Boris Johnson. As medidas de restrição tardaram a ser implementadas, dizem.

O caminho por lá passa agora por testar, testar, testar, em quatro dimensões: aumentar os testes nos hospitais, criar um teste que possa ser comercializado e entregue por empresas como a Amazon ou a Boots, testes sanguíneos disponibilizados para determinar se as pessoas estão imunes ou se já tiveram o vírus, tentar entender através de testes de anticorpos qual a percentagem da população que já esteve infetada.

Ainda no Reino Unido, surgiram denúncias, por parte de médicos, indicando que os lares aconselham os idosos a assinarem ordens de “não-reanimação” .

Estados Unidos

Numa altura em que 96% dos norte-americanos receberam ordens para ficar em casa, ou 315 milhões de pessoas, o país governado por Donald Trump registou um recorde diário: 884 mortes e mais de 25 mil novos casos, de acordo com o Instituto Johns Hopkins.

Os EUA é o país com mais casos confirmados no mundo, superando os 216 mil, com 4.475 mortes.

Os números do desemprego nos Estados Unidos têm gerado algum choque: 6,6 milhões de norte-americanos pediram subsídio de desemprego em apenas uma semana, juntando-se assim aos 3,3 que já o haviam feito.

Os serviços de informação norte-americanos não compram a história contada pela China durante esta pandemia, que teve origem em Wuhan, na região de Hubei, no centro do país asiático. Os serviços de informação dos EUA suspeitam que o número de mortes e casos de infeção divulgados por Pequim sejam mentira.

Mundo

Atingimos duas marcas importantes, uma que assusta, outra que dá esperança: 200 mil recuperados no mundo, numa pandemia que já superou o milhão de infeções. A covid-19 também já matou 51 mil pessoas.

A ONU prevê uma contração da economia mundial em 1%, ficando assim muito longe da previsão de 2,5% que remonta aos tempos anteriores à pandemia.

Os preços dos alimentos a nível mundial caíram em março. Com os preços do petróleo em queda, a paragem de muitas economias à escala global e a retração da procura induzida pelas medidas de contenção no combate à pandemia, os preços dos alimentos recuaram, garante a FAO, a organização das Nações Unidas para a Alimentação. Em Portugal a situação mantém-se estável.

O Brasil registou 58 novas mortes nas últimas 24 horas. Há pelo menos 8000 casos de covid-19 no território e 63% estão no sudeste do país. São Paulo tem mais de 3.500 infetados e 188 mortos.

Uma petição a pedir o cessar-fogo mundial já superou o milhão de assinaturas. Stephan Djurric, o porta-voz das Nações Unidas, congratulou-se com a iniciativa. “Estamos muito felizes em ver a quantidade de pessoas que aderiram a esta petição. É importante colocar pressão nos combatentes.”

O Alto-Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) criou um centro de quarentena para a covid-19 no assentamento do Lóvua, em Angola, onde se encontram mais de 6.000 refugiados da República Democrática do Congo.

Esta quinta-feira soube-se ainda que Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, e o chefe da Mossad estão em quarentena. Netanyahu já havia feito quarentena e um teste com resultado negativo, mas o governante esteve recentemente com o ministro da Saúde, Yaakov Litzman, que acusou positivo na quarta-feira.

Depois da China é a Indonésia o país asiático com mais vítimas mortais do novo coronavírus. De acordo com as autoridades daquele país, nas últimas 24 horas registaram-se mais 13 mortes e 113 casos: no total são 170 mortes e 1.790 casos. Há também 112 recuperados.

Não muito longe, a Tailândia anunciou um recolher obrigatório. Foi o primeiro-ministro do país, Prayuth Chan-ocha, que revelou a nova realidade. Será, por isso, proibido estar nas ruas entre as 22h e as 04h. Quem furar esta regra, arrisca-se a dois anos de prisão.

Das Filipinas chega um tom ameaçador: o Presidente diz que vai mandar matar quem provocar distúrbios durante a quarentena. Rodrigo Duterte decretou tolerância zero. O tom foi este: “[A situação] está a piorar. Por isso, mais uma vez, eu falo-vos acerca da seriedade do problema que vocês têm de ouvir. As minhas ordens para a polícia e para os militares, e também para os ‘barangay’ [pequena unidade de governo local], são de que se houver algum problema ou a situação se complicar, as pessoas entrem em confrontos e as vossas vidas ficarem em perigo, disparem e matem-nos. Está compreendido? Mortos. Em vez de causar problemas, eu enterro-vos”.

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