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Turquia acusa 20 sauditas do assassínio do jornalista Jamal Khashoggi

Ativistas pedem justiça para Khashoggi numa vigília em Nova Iorque
Ativistas pedem justiça para Khashoggi numa vigília em Nova Iorque
Sarah Silbiger/Reuters

Entre os suspeitos estão dois homens próximos do príncipe herdeiro Mohammed bin Salman. Julgamento realizado na Arábia Saudita não convence ONU

Turquia acusa 20 sauditas do assassínio do jornalista Jamal Khashoggi

Pedro Cordeiro

Editor da Secção Internacional

A justiça turca acusou 20 cidadãos sauditas, esta quarta-feira, pelo assassínio do jornalista Jamal Khashoggi. Entre os alegados responsáveis estão dois homens próximos do príncipe Mohammed bin Salman, herdeiro do trono da Arábia Saudita, conhecido pela sigla MBS.

Khashoggi foi morto no consulado do reino em Istambul, em 2018. Segundo um comunicado do procurador-chefe da cidade turca, Irfan Fidan, o ato foi cometido por 15 sauditas, comandados por três agentes secretos, às ordens do ex-conselheiro real Saud al-Qahtani e do ex-vice-diretor dos serviços de informação Ahmed al-Asiri.

Qahtani e Asiri, acusa o procurador turco, “instigaram um assassínio premeditado que visou tormento através de instintos malévolos”. Pede prisão perpétua para os 20 e emitiu-lhes mandados de captura, difíceis de cumprir, uma vez que nenhum está em solo turco. É provável, segundo o diário inglês “The Guardian”, que sejam julgados à revelia.

“Excesso de zelo”, diz Riade

A morte do jornalista, crítico do regime saudita, gerou uma crise diplomática entre a Arábia Saudita e os seus aliados ocidentais, além de ter mancheado a imagem de MBS enquanto modernizador do reino.

Segundo a agência CIA (dos EUA) e outros serviços de informações europeus e americanos, não é plausível que o crime não tenha sido ordenado pelo príncipe herdeiro. Este é quem na prática governa o país, em lugar do pai, o rei Salman, que tem 84 anos e saúde frágil. A Arábia Saudita justifica a morte de Khashoggi dizendo que foi uma operação de repatriamento que correu mal, por excesso de zelo de alguns dos agentes.

Riade não aceitou um apelo de Ancara para entregar os suspeitos. Em dezembro de 2019 um tribunal saudita condenou à morte cinco cidadãos não-identificados, nenhum próximo de MBS. Também decretaram que não houvera premeditação na morte do jornalista.

Essa conclusão é desmentida por uma investigação das Nações Unidas publicada em junho do ano passado. A relatora da ONU, Agnès Callamard, que não teve acesso ao julgamento saudita, desacreditou a respetiva sentença, exigindo um inquérito internacional independente. Dentro de portas, e sob pressão diplomática mundial, o caso levou à exoneração de Qahtani e Asiri, mas nenhum dos dois foi acusado no reino.

Desmembrado e dissolvido

Jamal Khashoggi, de 59 anos, vivia nos Estados Unidos, onde o seu trabalho (nomeadamente no jornal “The Washington Post”) era muito crítico da família real saudita. Deslocou-se ao consulado em Istambul a 2 de outubro de 2018, para tratar da burocracia relativa ao seu casamento (tinha noiva turca), e nunca mais foi visto.

O cadáver nunca foi encontrado. A análise de registos telefónicos e informáticos, testemunhos presenciais e deslocações dos suspeitos levaram os investigadores turcos a concluir que Khashoggi morreu estrangulado, tendo o seu corpo sido desmembrado com uma serra de amputação e dissolvido em ácido, tudo na delegação diplomática saudita em Istambul.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: pcordeiro@expresso.impresa.pt

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