Coronavírus

Idosos em lares de Espanha vivem no mesmo espaço que cadáveres que não são retirados dos quartos

Idosos em lares de Espanha vivem no mesmo espaço que cadáveres que não são retirados dos quartos
Denis Doyle/Getty

O surto de coronavírus em Espanha está a esgotar todos os recursos humanos e há pessoas idosas que, depois de morrerem, permanecem nos quartos dos lares onde viviam. Quem está vivo também não tem acesso a cuidados suficientes e muitas vezes são obrigados a permanecer nos mesmos espaços que os cadáveres

A situação nas instituições que acolhem os mais velhos está a tornar-se uma das páginas mais negras desta crise pandémica em Espanha. O Ministério da Defesa espanhol confirmou esta segunda-feira a vários meios de comunicação social que há idosos a morrer em lares da terceira idade que não estão a ser retirados desses locais, apesar de tais instituições permanecerem abertas e com residentes.

Estes, por sua vez, apesar de vivos, também não estão a ser acompanhados como deviam pelas equipas destas instituições, não raro depauperadas por terem infetados entre o pessoal.

O exército localizou idosos mortos em locais de acolhimento por todo o país e fontes do Ministério da Defesa, que falaram com a Rádio SER, confirmaram que os militares estão a tentar redobrar a sua presença nestes centros, que no início da crise serviu apenas para informar e aconselhar os utentes destes espaços.

Abandono total

As revelações de hoje levam a crer que o exército terá de começar a verificar estes locais com intuito de denunciar criminalmente as condições de vida dos idosos e o que cada lar está a fazer para tentar oferecer o máximo de cuidados a este segmento da população, já de si muito fragilizado e de risco.

“Membros do exército viram idosos absolutamente abandonados, quando não mesmo mortos nas suas camas", disse a ministra da Defesa de Espanha, Margarita Robles, em declarações ao canal Telecinco.

O Ministério Público de Madrid abriu um processo para investigar a morte de 17 idosos no lar de Monte Hermoso, a pedido de uma queixa da associação El Defensor del Paciente. A investigação começou após a denúncia de familiares de pessoas que residiam no local e é natural que mais casos cheguem às autoridades nos próximos dias.

Trabalhadores de outro lar em Marid (Loreto), gerido pela multinacional Orpea, acusaram a administração de estar a ocultar um surto de covid-19 que terá vitimado 16 utentes desde o dia 8 de março. O grupo francês Orpea, que possui 23 lares na região de Madrid, reportou apenas um caso.

“Os mortos e infetados no Orpea Loreto são muitos mais. Socorro!”, lê-se num cartaz feito pelos funcionários do lar e hoje reproduzido pelo jornal “El País”. O sindicato Comisiones Obreras divulgou um vídeo em que uma empregada da instituição, com voz distorcida, acusa a direção de ocultação, chantagem e ameaças.

Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: clubeexpresso@expresso.impresa.pt

Comentários
Já é Subscritor?
Comprou o Expresso?Insira o código presente na Revista E para se juntar ao debate