Covid-19. Comissão Europeia suspende disciplina orçamental - é a primeira vez que acontece
Medida permitir que os países injetem dinheiro na economia sem as restrições impostas normalmente pela UE
Medida permitir que os países injetem dinheiro na economia sem as restrições impostas normalmente pela UE
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, defendeu esta sexta-feira a suspensão das regras de disciplina orçamental da UE. A medida terá agora de ser aprovada pelos Estados-membros e é destinada a dar-lhes maior liberdade para gastarem o que for necessário para combater as consequências económicas do coronavírus e apoiar os sistemas de saúde nacionais.
É uma decisão inédita. Nunca a cláusula de derrogação geral tinha sido ativada desde que foi incluída no Pacto de Estabilidade e Crescimento em 2011.
Na prática, vem acomodar o que muitos países estão já a fazer, face a uma epidemia que exige respostas rápidas para salvar vidas. Sem tempo para pensar em regras ou esperar pela aprovação da flexibilidade, vários governos têm estado a anunciar pacotes de medidas na casa dos vários milhares de milhões de euros.
Os estímulos e ajudas económicas às empresas e trabalhadores devem ainda aumentar, abrindo caminho a défices nominais mais elevados do que o projetado e que podem, inclusive, ir além dos 3% do Produto Interno Bruto, a linha vermelha dos défices excessivos, prevista no Pacto de Estabilidade e Crescimento.
"É uma medida nova, isto nunca foi feito antes”, disse von der Leyen um vídeo publicado no Twitter. "Estamos a aliviar as regras orçamentais", para que "os governos nacionais possam injetar na economia o que precisarem".
Numa mensagem em que se dirigiu diretamente aos europeus, a presidente da Comissão Europeia reconhece que "a paralisação da vida pública é necessária para conter o vírus mas atrasa a economia", atingindo "a maioria dos sectores".
"Na semana passada disse que faríamos o que fosse preciso para apoiar os europeus e a economia europeia - e hoje posso dizer que essa promessa cumprimos", afirma, referindo-se também à ativação da cláusula criada para fazer face a períodos de severa quebra económica na Zona Euro e no conjunto da União Europeia.
Esta espécie de botão vermelho não suspende o Pacto de Estabilidade e Crescimento mas congela temporariamente os constrangimentos orçamentais. Deixam de valer todas as recomendações de ajustamento feitas aos governos, como a redução do défice estrutural.
Não significa, no entanto, que os países ficam livres do procedimento por défice excessivo, caso ultrapassem o limite dos 3%. Mas essa é uma avaliação e a uma análise que a comissão terá ainda de esclarecer.
Segundo a cláusula de salvaguarda, "os Estados-membros podem desviar-se temporariamente do caminho de ajustamento do objetivo de médio prazo, desde que não isso não ponha em risco as sustentabilidade a médio prazo".
Para já fica a promessa de flexibilidade total das regras orçamentais, que se junta à flexibilização nos auxílios estatais.
"As regras de ajudas de Estado que temos em vigor desde ontem são as mais flexíveis de sempre. Isto vai ajudar as vossas empresas e os vossos empregos. Os vossos governos podem agora dar dinheiro às muitas empresas atingidas por este choque tão repentino: hotéis, restaurantes, empresas de transportes, pequenas empresas que fechariam sem apoio", diz ainda no Twitter a alemã.
O quadro temporário prevê vários tipos de auxílio, incluindo subvenções diretas, benefícios fiscais seletivos e adiantamentos. A Comissão explica que o "os Estados-membros podem criar regimes de subvenções que poderão ir até €800.000 para ajudar uma empresa a fazer face a necessidades urgentes de liquidez".
Noutra frente podem ainda "fornecer garantias estatais" para assegurar que os bancos continuam a conceder empréstimos aos clientes que necessitem e "conceder às empresas empréstimos com taxas de juro bonificadas".
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