Coronavírus

Covid-19. Coreia do Sul, um modelo de combate de sucesso mas falível

Covid-19. Coreia do Sul, um modelo de combate de sucesso mas falível
Kim Kyung Hoon / Reuters

O regresso a casa de sul-coreanos que viviam no estrangeiro está a contribuir para a inflexão da curva de casos de coronavírus na Coreia do Sul, que estava em queda. A China, que registou esta quinta-feira zero casos de contágio interno, enfrenta o mesmo problema

Margarida Mota

Jornalista

O surto de Covid-19 parecia estar controlado na Coreia do Sul, mas esta semana um aumento contínuo do número de casos positivos voltou a fazer disparar os alarmes. Esta quinta-feira registaram-se 152 novos casos, ontem mais 93 e na véspera mais 84.

“À luz do recente aumento rápido do número de casos de Covid-19 na Europa, nos Estados Unidos e na região do Médio Oriente, bem como do aumento do número de casos importados encontrados tanto em quarentenas nos aeroportos como em comunidades, o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da Coreia (KCDC) anunciou que o Procedimento Especial de Entrada [no país] foi alargado a todos os viajantes”, decretou esta quinta-feira a KCDC, num comunicado publicado no seu sítio na Internet.

Desde a meia-noite desta quinta-feira quem tenta entrar na Coreia do Sul tem de responder a um questionário, medir a febre, fornecer um endereço no país e informações de contacto. Nos 14 dias seguintes, terá de reportar diariamente os seus sintomas através de uma aplicação de autodiagnóstico no telemóvel.

As novas medidas visaram já o voo charter com 80 sul-coreanos a bordo, que aterrou esta quinta-feira à tarde no Aeroporto Internacional de Incheon, em Seul, vindo do Irão — o terceiro país mais afetado em termos globais. Os passageiros foram transportados para uma unidade de isolamento, em Seongnam, a sul da capital sul-coreana, “onde passarão dois dias em testes ao coronavírus. Se derem negativo, será pedido a essas pessoas que se isolem voluntariamente nas suas casas”, noticiou o jornal “The Korea Herald”.

Normalidade aparente

Desde o início desta crise, a Coreia do Sul — que chegou a ter o pior surto fora da China — tem vindo a aplicar um modelo de combate assente na transparência e na cooperação dos cidadãos, em contexto de uma aparente normalidade. Seul optou por realizar testes em massa à população, abdicando de medidas de bloqueio como o encerramento de fronteiras ou o isolamento domiciliário, como têm sido adotadas na maioria dos países.

Hoje a Coreia do Sul tem uma das mais baixas taxas de mortalidade por Covid-19: apenas 1,06%.

“Fizemos o nosso melhor para armazenarmos recursos e trabalhamos com esforço para fazer testes em massa a pessoas e realizar quarentenas”, diz o epidemiologista Hwang Seung-sik, professor na Universidade Nacional de Seul, citado pela televisão árabe Al-Jazeera. “Mas o coronavírus anda por aí há três meses e não é muito claro quais os preparativos que fizeram os Estados Unidos e os países europeus.”

China ainda não canta vitória

Tal como na Coreia do Sul, atualmente a maior preocupação na China prende-se com o regresso a casa de chineses que vivem no estrangeiro. Esta quinta-feira, Pequim anunciou, pela primeira vez desde dezembro, zero casos de contágio interno. Em compensação, foram detetados 34 casos importados do estrangeiro.

No presente contexto, os chineses que vivem no exterior sentem-se mais protegidos pelas medidas de vigilância e controlo impostas pelo seu Governo do que pela resposta dos sobrecarregados serviços de saúde ocidentais.

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