Os estivadores estão a lançar um alerta sobre a segurança dos portos portugueses e a sua própria segurança pessoal que "no fim é a de todos nós", como diz ao Expresso fonte da direção do SEAL - Sindicato dos Estivadores e da Atividade Logística, sublinhando que a classe está a operar, nos portos portugueses "sem qualquer plano de segurança nem medidas de proteção".
"Em Portugal, a preocupação com o Covid-19 parece que comporta uma excepção, a qual é incompreensível e, em última instância, até poderá vir a ter contornos criminosos caso as consequências venham a atingir a gravidade que o comportamento por omissão das autoridades e de algumas empresas portuguesas está a potenciar de forma quase exponencial. Tal excepção prende-se com os portos portugueses, onde os estivadores não têm qualquer tipo de protecção específica com vista a evitar a sua contaminação pelo Covid-19", diz o SEAL em comunicado.
E denuncia: "Aquilo que se sabe é que, por exemplo, no porto de Sines, onde existe uma enorme quantidade de carga com origem em portos de países de risco, nomeadamente chineses, e com escala noutros portos potencialmente comprometidos, nomeadamente os italianos, os elementos da Polícia Marítima que sobem a bordo dos navios usam máscaras e luvas de protecção, enquanto que um estivador pode trabalhar nos mesmos locais, sem que lhe seja facultado qualquer meio de protecção individual similar".
"Os estivadores não têm direito a máscaras e luvas de protecção em qualquer porto nacional, incluindo-se aqui os portos dos Açores e da Madeira, pelo que, atendendo à natureza específica do seu trabalho, essa omissão de fornecimento de indicações e equipamento de segurança só poderá significar que as autoridades e empresas, marítimas e portuárias, têm pleno conhecimento de que o Covid-19 não consegue contaminar qualquer estivador", acrescenta,.
A justificar esta tomada de posição e o alerta ao país e ao governo, o SEAL recorda que os estivadores sobem a bordo dos navios todos os dias e lidam com tripulações que vão sendo substituídas ao longo das escalas previstas na rota. Assim, se as medidas de contenção " têm vindo a sofrer um incremento cada vez maior, havendo encerramentos, totais e/ou parciais, de todo o tipo de serviços públicos, nomeadamente tribunais, escolas, câmaras municipais, serviços da segurança social, havendo também, entre inúmeras outras situações, suspensão de ligações aéreas, espectáculos desportivos à porta fechada e, para já, um país declarado em quarentena total, a Itália", os estivadores que trabalham nos portos portugueses fazem questão de não ser esquecidos num momento em que estão em luta, em greve total, no Porto de Lisboa, onde "os serviços mínimos têm estado a ser assegurados por trabalhadores com salários em atraso, quando já foi declarada pandemia".
"Parecem estar reunidas as condições para o Governo e país acordarem finalmente para o problema e perceberam que é preciso encontrar uma solução, uma vez que o abastecimento, designadamente através dos portos, está no centro do controlo da epidemia", diz a direção do SEAL.
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