Coronavírus

Covid-19. Como manter o moral em alta em tempos de pandemia? Diretor de Psicologia do Hospital São João explica

Covid-19. Como manter o moral em alta em tempos de pandemia? Diretor de Psicologia do Hospital São João explica
AMPE ROGÉRIO

Equipa de nove psicólogos está a prestar apoio aos 20 internados com o novo coronavírus do Centro Hospitalar Universitário São João, no Porto, e às respetivas famílias sob vigilância em isolamento social. Falar verdade, ensinar a lidar com sentimentos de culpa e manter a família em rede faz parte do guião

Covid-19. Como manter o moral em alta em tempos de pandemia? Diretor de Psicologia do Hospital São João explica

Isabel Paulo

Jornalista

Desde segunda-feira, uma equipa multidisciplinar de nove psicólogos está a prestar apoio aos 20 doentes internados com Covid-19 do Centro Hospitalar Universitário São João, no Porto, e às respetivas famílias sob vigilância. O acompanhamento aos infetados hospitalizados e à família e amigos, em casa e em isolamento social, é feita por telefone, situação que Eduardo Carqueja, diretor de Psicologia do São João, justifica para evitar riscos acrescidos de pacientes e profissionais, mas também para evitar desperdício de materiais indispensáveis a médicos e enfermeiros.

“Contactar os pacientes presencialmente, mas mascarados, não ajuda a tranquilizar quem está isolado, podendo até ser mais um motivo de angústia”, diz o líder da equipa de psicólogos, que avança ser mais eficaz nestas circunstâncias o diálogo descontraído por telefone. Eduardo Carqueja conta que os internados revelam, sobretudo, grande preocupação com o estado de saúde dos familiares que possam estar infetados, existindo na maioria dos casos “sentimentos de culpa” por terem sido responsáveis pelo eventual contágio.

“Não há receitas únicas para lidar com estes doentes, mas cabe-nos, sobretudo, normalizar emoções e os sentimentos de culpabilidade”, diz, sublinhando que a principal mensagem é que nestes contextos de epidemia não há culpados. “As situações mais complexas são as dos doentes já com outro histórico patológico, como estados depressivos, cenário em que é necessário um acompanhamento mais dirigido face ao quadro antecedente”, afirma Eduardo Carqueja, que revela que, curiosamente, os internados não se fixam demasiado em perguntas sobre a cura.

No Hospital de São João, os doentes em tratamento estão em enfermarias de três ou quatro pessoas, convívio que ajuda a manter a moral em alta. Na mesma unidade encontra-se uma família de pai, mãe e dois filhos, sendo útil estarem juntos 24 horas porque isso ajuda a reforçar laços e a combater o desânimo.

A ocupação do tempo dos longos dias de quarentena varia de paciente para paciente, mas o maior entretenimento é a televisão; também ajuda ter acesso à internet e telemóvel à mão para conversarem com os familiares em casa. “Aconselhamos que vejam fotos de bons momentos e a ver dois vídeos disponibilizados pela Ordem dos Psicólogos, com pistas para minimizar o stress em situação de confinamento”, acrescenta.

Às famílias em isolamento, o foco é incentivar a que se sigam as indicações dadas por profissionais de saúde, sem se deixarem dominar por programas ou informação alarmista. “Qualquer dúvida, liguem para a equipa de psicólogos que sabem que podem contar com informações reais”, apela Eduardo Carqueja.

Ficar em casa é “uma boa ação”

Aos pais que a partir de segunda-feira vão ficar em casa com os filhos menores por força do encerramento de todas as escolas e ATL do país, o psicólogo, doutorado em bioética, adianta alguns conselhos. O principal é evitar junto dos mais pequenos “sentimentos de medo” face à clausura e à epidemia. “A mensagem tem de ser adequada à idade da criança, sendo fundamental que se explique que não estão doentes e é, precisamente, para não ficarem doentes, bem como os outros meninos, que é melhor ficarem em casa”, refere Eduardo Carqueja, advertindo ser importante terem a noção de que estão a praticar “uma boa ação”.

Para evitar o desgaste do confinamento, Eduardo aconselha rotinas, com momentos de estudo, jogos, televisão, algum exercício físico e uma volta ao quarteirão, em zonas sem concentração de gente e abstenção de convívio e vizinhos. “Quantas vezes ouvimos os pais a dizerem que não têm tempo para estar com os filhos? Aproveitem a ocasião para fazem o que não conseguem fazer no tempo normal”, lembra. Neste dias de confinamento, ter um diário também pode ser divertido para mais tarde recordar.

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