Localização de grafitis, realidade aumentada no cemitério e locais com mais acidentes: Laboratório de dados de Lisboa, a cidade do futuro
O Laboratório de Dados Urbanos de Lisboa pretende explorar repositórios de dados a fim de abrir caminhos a novos serviços e previsões de ocorrências
A primeira mostra de projetos desenvolvidos em parceria por universidades e o Laboratório de Dados Urbanos da Câmara de Lisboa são apresentados esta terça-feira
O Cemitério dos Prazeres já era conhecido por servir de última morada a Carlos Paredes, Duques Palmela, Columbano Bordalo Pinheiro ou Mário Cesarinny, mas também poderá tornar-se conhecido, em breve, por permitir visitas com técnicas de realidade aumentada para acesso a vídeos, sons ou textos quando se aponta a câmara do telemóvel. A entrada no grupo dos cemitérios de nova geração já começou a ser trabalhada na mais recente mostra de 14 projetos desenvolvidos por alunos de várias faculdades para o Laboratório de Dados Urbanos de Lisboa. Ferramentas que monitorização de tráfego e qualidade do ar, ou localização de grafitis e rotas preferidas por turistas são outros dos projetos apresentados esta terça-feira que já estão em análise para potencial integração nos serviços da Câmara Municipal de Lisboa.
“Depois de fazerem a devida análise, os serviços municipais decidem quais as propostas que interessam e passam para a fase de produção (de ferramentas disponibilizadas no dia-a-dia), que pode implicar o lançamento de concursos públicos. Por sua vez, a Câmara de Lisboa não impede que os alunos e professores que desenvolveram os projetos criem startups para exploração destas novas ferramentas junto de outros potenciais interessados”, descreve João Tremoceiro, diretor do Centro de Gestão de Inteligência Urbana de Lisboa.
O salto tecnológico que está em análise para o Cemitério dos Prazeres tem por base dois dos projetos apresentados por alunos de várias faculdades da Universidade de Lisboa, Universidade Nova de Lisboa, e ainda Universidade Católica e Universidade do Minho, cujos trabalhos deverão ser divulgados numa segunda oportunidade. Num dos projetos, prevê-se que sejam aplicadas ferramentas de realidade aumentada a campas e jazigos de interesse histórico, arquitetónico ou turístico que se encontram do Cemitério dos Prazeres. O segundo projeto desenhado para o conhecido cemitério lisboeta tem em vista a recriação virtual do jazigo dos Duques de Palmela, que está classificado como um dos maiores da Europa.
“Pode não parecer, mas há um forte turismo cemiterial em Lisboa”, lembra João Tremoceiro.
Os projetos têm por ponto de partida desafios anuais definidos pelo município. Perante este repto, alunos e professores das diferentes faculdades escolhem os desafios em que pretendem participar. E por isso há desafios da Câmara que arriscam ficar sem resposta, ao mesmo tempo que outros recebem mais que uma proposta. “Já temos definidos 20 desafios para o próximo ano. Na próxima edição contamos atribuir prémios aos melhores projetos”, promete João Tremoceiro.
O Cemitério dos Prazeres poderá estrear-se em breve nas ferramentas de realidade virtual e realidade aumentada
Parte dos projetos desenvolvidos no Laboratório lisboeta pretendem funcionar como provas de conceito, que podem ou não ser adotadas pela Câmara. “Mas também há projetos que são estudos”, sublinha o diretor do Laboratório de Dados Urbanos de Lisboa.
Além das duas ferramentas pensadas para o Cemitério dos Prazeres, a lista de projetos conta ainda com uma solução de deteção e localização de grafitis, um sistema de verificação de licenciamento de alugueres de alojamento local, e um sistema de gestão de incidentes em cidades inteligentes, que devem essa classificação ao facto de usarem redes de comunicações e sensores para a recolha de informação.
Também foi desenvolvido um indicador do tráfego para as diferentes entradas na cidade e três estudos sobre o impacto de Covid-19, confinamentos e desconfinamentos na mobilidade e na qualidade do ar da cidade, bem como uma ferramenta que permite conhecer os percursos mais populares entre turistas, com base nos dados das redes móveis devidamente anonimizados.
Da lista fazem parte ainda dois projetos de análise dos locais com maiores índices de acidentes rodoviários, uma análise à mobilidade urbana em geral, que recorre a dados anonimizados das redes móveis, e ainda uma proposta de segmentação da oferta das bicicletas Gira que tenham em conta as necessidades registadas nos diferentes bairros.
É possível que parte destes projetos não passe da gaveta ou não chegue sequer às ruas da capital, mas João Tremoceiro considera que esta primeira mostra de projetos já traz benefícios associados à promoção de inovação e ao aproveitamento dos repositórios de dados que a Câmara detém. O mais recente balanço revela que, a cada dia que passa, dão entrada dois milhões de registos de dados nas plataformas que suportam a gestão municipal.
João Tremoceiro recorda que a sofisticação dos serviços camarários pode ir além do aproveitamento dos dados, e contemplar previsões e identificação de tendências. “Sabemos que há projetos que já estão em análise para potencial adoção pelos serviços camarários. Para fazer a análise dos dados precisamos de conhecimentos técnicos, mas para fazermos previsões a partir desses dados podemos precisar de inteligência artificial e de outras coisas que nós não temos, e que existem nas universidades“, conclui o diretor camarário.