Abusos

Abusos na Igreja: Patriarcado de Lisboa suspende quatro padres da lista da comissão independente

Abusos na Igreja: Patriarcado de Lisboa suspende quatro padres da lista da comissão independente
TIAGO PETINGA

D. Manuel Clemente afasta quatro padres no ativo denunciados na lista de sacerdotes suspeitos de pedofilia da comissão independente. Há um quinto padre que já tinha sido alvo de sanções canónicas e que está no ativo

O Patriarcado de Lisboa anunciou a suspensão preventiva de quatro padres no ativo que tinham sido denunciados na lista da comissão independente que estudou os abusos sexuais na Igreja.

Em comunicado, o cardeal-patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente explica que determinou o afastamento preventivo, também designado como proibição do exercício público do ministério, de quatro sacerdotes no ativo, recomendado pela Comissão Diocesana.

E sublinha que não existe uma acusação formal a nenhum destes sacerdotes que, contudo, ficam assim “afastados do exercício público do seu ministério, enquanto decorrem todas as diligências dos seus processos”.

O outro sacerdote referido pela comissão independente, que também se encontra no ativo, já tinha sido sujeito a medidas cautelares.

Na conferência de imprensa a 3 de março, em Fátima, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa, D. José Ornelas, confirmou a receção de uma lista de padres sob suspeita elaborada pela comissão independente. Essa lista continha cerca de cem sacerdotes, alguns deles já falecidos.

Na semana seguinte, várias dioceses anunciaram a suspensão preventiva de sacerdotes referidos na lista até serem concluídas as investigações da Justiça civil e canónica.

No último dia 10, a Patriarcado de Lisboa revelou que havia cinco padres no ativo naquela lista mas em vez de os suspender preventivamente optou por pedir informações adicionais à comissão liderada pelo pedopsiquiatra Pedro Strecht para averiguar as suspeitas que recaíam sobre os sacerdotes.

Polémica com D. Manuel Clemente

Cinco dias antes, D. Manuel Clemente, em entrevista à RTP, SIC e Rádio Renascença, causou polémica ao negar que iria afastar padres suspeitos de pedofilia sem haver “factos comprovados, sujeitos a contraditório" e um processo canónico feito pela Santa Sé.

D. Manuel Clemente salientou que Portugal é um “país de lei e qualquer pessoa que seja acusada tem de saber do que é que é acusada”; “Aquilo que nos foi entregue pela Comissão Independente foi uma lista de nomes. Se essa lista de nomes for preenchida por factos, tanto nós como as autoridades civis podemos atuar. [...] Da parte da Igreja, estamos completamente disponíveis para procurar a resolução deste problema, em colaboração, claro está, com as entidades civis e canónicas”, afirmou o cardeal-patriarca de Lisboa.

Questionado se a resolução do problema pode passar pela suspensão imediata dos alegados padres abusadores de menores, Manuel Clemente respondeu: “Essa é uma pena muito grave, é a mais grave que a Santa Sé poderá dar e é a Santa Sé que a poderá dar. Se nós tivermos factos, e factos comprovados e sujeitos a contraditório, claro - nós estamos num país de direito e de leis - só pode ser feita pela Santa Sé, não é uma coisa que um bispo possa fazer por si", referiu.

Interrogado se os padres em questão não podem ser suspensos preventivamente, o cardeal-patriarca de Lisboa voltou a descartar esse cenário, referindo que “não pode ser porque é sujeito a contraditório; A suspensão é uma pena, como disse, muito grave, que só pode ser dada pela Santa Sé depois de um processo canónico. Na lei civil, todos os casos são do conhecimento do Ministério Público e o Ministério Público atua conforme a lei e nós cá estamos para colaborar", disse.

Confrontado com as declarações do bispo emérito das Forças Armadas - que, em entrevista à RTP, defendeu a suspensão preventiva de alegados padres abusadores de menores e considerou que os bispos que encobriram esses casos “não servem para o lugar que ocupam” -, Manuel Clemente referiu que “essas palavras são de quem as proferiu”.

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