Nos últimos dois anos, a Fundação Calouste Gulbenkian apoiou 15 projetos-piloto de cuidados domiciliários a idosos em várias regiões do país que incluíam teleassistência, atendimentos de enfermagem e terapia ocupacional, intervenção psicológica e animação social. O balanço, que será apresentado esta segunda-feira, não deixa dúvidas sobre os benefícios de apoiar a população mais velha em casa para melhorar a sua qualidade de vida e evitar a institucionalização precoce.
O projeto Gulbenkian Home Care (GHC) envolveu 1488 idosos de várias regiões do continente e ilhas, a residir em casa e com várias vulnerabilidades socioemocionais e físicas, como mobilidade reduzida, problemas de memória, sentimentos persistentes de tristeza, ansiedade ou solidão. De acordo com os resultados destes projetos, 57,6% dos idosos abrangidos consideram que o seu bem-estar melhorou, 53% reportaram melhorias a nível da saúde física e cerca de 30% afirmaram ter menos sentimentos associados a isolamento e depressão.
Para a Gulbenkian, o balanço destes projetos de proximidade mostra que o apoio domiciliário é “uma resposta humanizada e eficiente ao envelhecimento populacional em Portugal”. Nesse sentido, a fundação sublinha a necessidade de “priorizar políticas públicas” que permitam reforçar e diversificar estes serviços, de modo a garantir que “as pessoas mais velhas tenham acesso aos cuidados e ao apoio de que efetivamente necessitam, para permanecer nas suas casas com a assistência adequada e com a dignidade merecida”.
A iniciativa Gulbenkian Home Care foi concebida para promover a implementação de projetos de proximidade que preservem as capacidades da população mais velha através de cuidados integrados, com planos individuais, prestados por profissionais em casa e na comunidade. A ideia é “lançar as bases para uma mudança de paradigma nos cuidados a idosos”.
Com base nos resultados da fase-piloto da GHC, “torna-se evidente que a melhoria do funcionamento das organizações sociais que prestam cuidados ao domicílio exige o reforço da articulação com a área da saúde, bem como com o poder local”, para ampliar e diversificar o apoio domiciliário, personalizando-o e adaptando-o às necessidades específicas de cada utente.
“Vislumbra-se a urgência de aproximar os cuidados prestados às pessoas mais velhas das suas expectativas e reais necessidades, sejam elas físicas, emocionais e/ou de natureza sociorecreativa, centrando o cuidado na individualidade e tornando-o mais especializado e capaz de promover funcionalidade, bem-estar psicológico, autodeterminação e conexão social”, frisa o estudo Inovação no Serviço de Apoio Domiciliário para Pessoas Idosas, publicado esta segunda-feira pela Gulbenkian.
A publicação, que junta vários estudos académicos sobre o tema e o balanço dos resultados dos 15 projetos apoiados, defende que “o papel das autarquias pode ser de enorme relevância” nesta área, “numa lógica de cofinanciamento e complementaridade de recursos partilhados com as IPSS” que prestam serviços de apoio domiciliário.
Da mesma forma, adianta a Gulbenkian, é preciso aumentar e melhorar a articulação com o Serviço Nacional de Saúde, nomeadamente a nível dos cuidados de saúde primários, já que estes “podem assegurar um tipo de cuidados que as IPSS dificilmente conseguem prestar e que são essenciais para cuidar de pessoas com comorbilidades e doenças crónicas complexas, que exigem cuidados especializados e um acompanhamento regular.”
No âmbito da iniciativa Gulbenkian Home Care, foi agora lançado um concurso para uma nova fase, que abrangerá o apoio a 14 projetos de cuidados domiciliários.
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