Sociedade

Vinho mais antigo alguma vez descoberto estava conservado numa urna funerária em Espanha

O vinho branco tornou-se castanho-avermelhado devido às reações químicas que ocorreram nos 2000 anos desde que foi colocado na urna.
O vinho branco tornou-se castanho-avermelhado devido às reações químicas que ocorreram nos 2000 anos desde que foi colocado na urna.
EFE/Juan Manuel Román/Universidad de Córdoba

A análise microbiológica revela que o vinho com mais de dois mil anos não é tóxico. Estava numa urna romana em conjunto com um anel e restos ósseos cremados

Vinho mais antigo alguma vez descoberto estava conservado numa urna funerária em Espanha

Eunice Parreira

Jornalista

É vinho branco com mais de dois mil anos e as análises permitiram comprovar que se trata do mais antigo vinho já descoberto na forma líquida original. Foi descoberto dentro de uma urna romana em Carmona, uma cidade em Andaluzia, no sul de Espanha, avança o jornal espanhol ‘El País’. Esta descoberta ultrapassa uma garrafa de vinho, datada entre 325 e 350 d.C., exposta no Museu Histórico de Palatinado, na Alemanha, que era, até aqui, considerado o vinho mais antigo.

Em 2019, uma família estava a fazer obras na sua casa em Carmona quando se deparou com um túmulo afundado na sua propriedade. Devido à forma circular e à localização próxima de uma estrada fundamental que ligava a cidade a Sevilha, os investigadores da Universidade de Córdoba e da Câmara Municipal de Carmona indicam este mausoléu pertencia a uma família romana abastada.

“Os arqueólogos da cidade rapidamente se aperceberam de que o túmulo era incrivelmente invulgar porque não tinha sido assaltado ou saqueado - os romanos eram orgulhosos, mesmo na morte, e costumavam construir monumentos funerários, como torres, sobre os seus túmulos para que as pessoas os pudessem ver”, explica ao jornal ‘The Guardian’ José Rafael Ruiz Arrebola, professor de Química Orgânica na Universidade de Córdoba, que dirigiu parte a investigação.

O túmulo era composto por oito nichos funerários, seis dos quais continham urnas, onde estavam restos ósseos cremados. Este túmulo já tinha feito manchetes em Espanha quando os investigadores anunciaram ter encontrado numa das runas, um perfume romano de cheiro a patchuli com dois mil anos. Na altura, encontraram uma das urnas cheia de líquido de cor vermelho-acastanhada, que agora se concluiu ser vinho que remota a 1 d.C..

Dentro da urna também estavam ossos cremados e um anel de ouro. "No início, ficámos muito surpreendidos com o facto de este líquido se conservar numa das urnas funerárias", explicou o arqueólogo municipal de Carmona, Juan Manuel Román, citado pela agência noticiosa espanhola EFE.

Assim que descobriram que se tratava de vinho, semelhante aos vinhos da região de Andaluzia, os investigadores consideraram que esta bebida mostrava uma divisão de género na sociedade romana. As mulheres da antiga Roma estiveram durante muito tempo proibidas de beber vinho e enquanto os restos mortais masculinos foram descobertos com o vinho, os restos femininos estavam numa urna com joias em âmbar, frascos de perfume e um tecido, que análises iniciais indicam ser seda.

O vinho colocado na urna seria parte do conjunto de objetos que acompanhava o defunto na sua passagem para o além. O professor de química orgânica ainda sugeriu ao arqueólogo Juan Manuel Román que bebessem "um copo pequenino" para celebrar a descoberta. “Este vinho esteve dois mil anos em contacto com o corpo cremado de um romano morto. O líquido é um pouco turvo por causa dos restos de ossos. Mas acho que se pode filtrar e experimentar. Mesmo assim, eu preferia que outra pessoa o provasse primeiro", admite Ruiz Arrebola, embora a análise microbiológica tenha comprovado que o vinho encontrado “não é minimamente tóxico”.

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