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Junta de freguesia manda fechar campo de basquetebol após queixas de vizinhos, mas há um grupo de jogadores que não aceita a derrota

Junta de freguesia manda fechar campo de basquetebol após queixas de vizinhos, mas há um grupo de jogadores que não aceita a derrota
D.R

As queixas dos vizinhos e uma decisão do presidente da Junta de São Domingos de Benfica levaram ao fecho de um campo de basquetebol onde dezenas de praticantes se juntavam todos os dias. José da Câmara diz que as decisões nunca “agradam a todos” mas um grupo de basquetebolistas ainda está a tentar dar a volta ao jogo

Junta de freguesia manda fechar campo de basquetebol após queixas de vizinhos, mas há um grupo de jogadores que não aceita a derrota

Rui Gustavo

Jornalista

Quando uma bola de basquetebol bate no chão ou na tabela, o som que produz pode ter dois significados: uma alegria para um jogador que tente marcar um cesto ou uma tortura para quem estiver a tentar descansar a cabeça.

Este conflito de interesses provocado pela bola laranja de 632 gramas prolongou-se durante sete anos num campo das Laranjeiras, em Lisboa, construído ao pé de uns prédios de habitação e que, quando foi inaugurado, foi elogiado pela Associação de Basquetebol de Lisboa como um excelente exemplo de promoção do desporto e da vida saudável. Em maio de 2024, o atual presidente da Junta de Freguesia de São Domingos de Benfica deu razão aos que se queixam do barulho da bola e mandou desmantelar os dois campos de basquetebol e o de corfebol que atraiam praticantes destas duas modalidades durante toda a semana, em especial ao sábado e ao domingo.

“Eu nunca teria construído o campo ali. Foi um erro”, justifica-se José da Câmara, eleito em 2021 pela Coligação Novos Tempos, liderada pelo PSD e pelo CDS. “As decisões nunca agradam a todos, mas eu tive de decidir assim porque ouvi os moradores e a maioria queixava-se do barulho da bola, da música alta e dos palavrões.”

David Rego foi basquetebolista federado na juventude e ainda joga com os amigos para manter a forma e divertir-se. “Temos um grupo que se juntava nas Laranjeiras porque não só o campo é em Lisboa, mas também porque o piso é dos poucos que não é pintado e não andamos a escorregar. Joguei ali vários anos e nunca ouvi uma queixa de barulho ou de desacatos. Nada. E custa-me que a primeira medida seja encerrar o campo. É assim que se promove o deporto?”

Ele e um grupo de mais de trinta jogadores “maioritariamente seniores” escreveram uma carta aberta ao presidente da Junta para tentarem reverter a situação: “Que melhor fórmula de bem-estar e de exemplo podemos desejar, do que jovens na rua a praticar desporto de forma salutar e pacífica? Que exemplo como sociedade passamos aos nossos jovens, quando os espaços seguros e recreativos existentes, que aglutinam jovens e seniores em torno de um propósito comum, são desbaratados sem justificação plausível?”

“Vivemos aqui um inferno essa é que é a verdade”, reclama Carlos Prata, reformado, que habita num dos prédios colado aos campos onde a bola já não salta mais. “O pior era ao fim de semana. Estavam aí de manhã à noite. O barulho da bola a bater era uma tortura e depois a música alta, os palavrões. Não se conseguia descansar. Cheguei a ter de chamar a polícia, mas só agora é que isto se resolveu.”

Em 2017, os campos não existiam. “Era um baldio com uma rede. Já tinha havido campos mas estava tudo degradado”, conta António Cardoso, presidente da Junta em 2017 que decidiu recuperar os campos. “O investimento foi relativamente baixo, uns poucos milhares de euros e atraiu desde cedo muita juventude. É verdade que houve protestos de moradores, mas era uma minoria. Eram sempre os mesmos e quando foram à Assembleia da Freguesia foram sempre derrotados. Considero um erro terem desmantelado os campos por causa dos protestos de uma minoria.”

Carlos Rego conta que os campos atraíram “desde sempre” jovens “negros” que moram nos bairros perto da Laranjeiras. “Não quero acreditar que tenha sido por causa disso que houve queixas, porque nós nunca presenciamos um desacato, uma discussão o que fosse. O barulho era o de jovens a praticar desporto. Nada mais do que isso.”

E agora? “Agora vamos fazer um parque infantil e de fitness naquele local. Vamos gastar cerca de dez mil euros e espero ter as autorizações necessárias já em junho”, diz José da Câmara. “E vamos fazer novos campos de basquete no Parque Bensaúde, num local onde estão uns casões velhos. Não sabemos ainda quanto é que vai custar nem quando estará pronto.”

O Expresso contactou a Câmara de Lisboa para ter uma posição do presidente sobre este caso e o custo de todas as operações mas não obteve resposta.

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