Uma explosão mal calculada, ocorrida esta segunda-feira, estará na origem do acidente com um mineiro de Neves-Corvo, no concelho de Castro Verde. O trabalhador ficou soterrado, a mil metros profundidade. Fonte da Proteção Civil contou que o acidente se deveu ao abatimento do teto da galeria onde o trabalhador estava a operar.
O acidente, que ocorreu às 14h08, deu-se pouco antes da execução de um “disparo da pega”, o termo técnico para o uso de explosivos para abrir um novo veio de exploração. O tecto da secção da mina terá abatido "devido à mecânica da rocha”, adiantou o responsável da Proteção Civil. Terá sido neste momento que o mineiro foi atingido, sendo ainda desconhecido se morreu, se está soterrado ou foi intoxicado pelos gases que se libertaram da rocha após a explosão.
A brigada de socorro da Mina de Neves-Corvo tentou chegar até ao trabalhador, um homem de 42 anos, residente em Castro Verde. Para o local foram mobilizados elementos dos bombeiros de Castro Verde e militares da GNR, assim como o helicóptero do INEM estacionado no Algarve.
A colocação de explosivos é feita com máquinas retroescavadoras de baixo perfil, operadas á distância através de controlo remoto, para garantir a segurança do operador da máquina. Só depois de decorridas duas horas é que os geólogos avaliam as condições de segurança e autorizam a entrada aos mineiros que procedem à exploração.
A entrada da mina está condicionada à avaliação das condições de segurança, uma vez que nem bombeiros ou INEM podem entrar nas galerias.
Pedro Sousa, especialista em resgates do Regimento Sapador de Bombeiros de Lisboa, explicou ao Expresso que estas minas “mantêm padrões de segurança elevados, como a existência de contentores, junto aos poços de ventilação, que permitem aos mineiros ter acesso a primeiros-socorros, mantimentos e outro equipamento”. São “áreas de refúgio, mas é preciso saber se houve um colapso da secção, para que o resgate possa ser feito com recurso a maquinaria, para remover os destroços e rochas”.
Armando Pereira, coordenador do Comité Ibérico de Resgate Mineiro e especialista em salvamentos em minas, confirma que nestas circunstâncias “é obrigatória a existência de uma brigada de socorro, dos próprios mineiros, porque as equipas de salvamento exteriores não podem entrar”. As operações mineiras, explica o especialista, obrigam a que depois do disparo do explosivo “decorram duas horas, antes de os mineiros poderem entrar”. Este hiato permite a avaliação geológica e a “limpeza da atmosfera”, indica Armando Pereira.
As averiguações vão decorrer a cargo da Autoridade para as Condições de Trabalho em articulação com a Direção-Geral de Energia e Geologia, sob tutela do Ministério Público, por se tratar de uma morte.
Em dois anos este foi o quinto acidente mortal na Mina de Neves-Corvo, que tem 50 hectares em exploração, para produzir concentrados de cobre, zinco e chumbo. Já antes, em 2020, “um mineiro morreu em circunstâncias idênticas ao acidente desta segunda-feira”, adiantou fonte de um sindicato mineiro.
A operação em Neves Corvo é feita pela Somincor e detida pela Lundin Mining, que ainda não prestou esclarecimentos.
Esperança de encontrar mineiro com vida é escassa
António Minhoto, mineiro e dirigente da Associação dos Ex-Trabalhadores das Minas de Urânio, admitiu ao Expresso que “é muito difícil conseguir retirar o mineiro com vida”.
Este antigo mineiro, que tem agendada uma deslocação a Neves-Corvo, a 23 de fevereiro, para debater questões ambientais e de segurança, lembra que “o operador estava dentro da máquina, quando abria uma frente de trabalho, pelo que a profundidade da mina e toda a rocha que está em cima da máquina tornam o resgate com vida muito difícil”.
Acresce que “é preciso uma inspeção rigorosa, para avaliar se não há outros riscos de derrocada ou se a própria galeria não terá que ser escorada”. Para proceder ao resgate “estão a utilizar máquinas, a mil metros de profundidade, que estão a tirar a rocha e o minério para as torvas, para abrir caminho à brigada de intervenção”.
Minhoto, que “expressa toda a solidariedade” aos mineiros de Neves-Corvo, reforça a necessidade de se “apurarem todas as condições em que o trabalhador estava a operar para saber se foram cumpridas as condições de segurança, sobretudo o tempo de espera depois da explosão”.
[Notícia atualizada às 18h19 com as declarações de António Minhoto]