13 de fevereiro, o dia em que tudo mudou: as vítimas de abusos sexuais na Igreja são a figura do ano para o Expresso

Cinco mil pessoas terão sido abusadas por padres desde os anos 50. O número brutal foi conhecido este ano. Ninguém ficou indiferente
Cinco mil pessoas terão sido abusadas por padres desde os anos 50. O número brutal foi conhecido este ano. Ninguém ficou indiferente
Jornalista
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No dia em que tudo mudou, a 13 de fevereiro, uma comissão independente nomeada pela Igreja e chefiada por Pedro Strecht (psiquiatra que já tinha entrevistado vítimas de abusos no processo Casa Pia) marcou uma conferência de imprensa na Gulbenkian para dar “voz ao silêncio”. Na sala, os mais altos representantes do clero, polícias e jornalistas puderam assistir ao destapar de uma realidade que ninguém queria ver: o número de vítimas poderia chegar a “um mínimo” de 4815 pessoas abusadas entre os anos 50 e 2022. Este número é uma projeção feita a partir de 512 testemunhos validados e só 25 casos foram enviados ao Ministério Público, que até agora, por insuficiência de provas ou por prescrição, não fez qualquer acusação criminal contra os religiosos denunciados. Mas nada ficou como antes.
Os responsáveis pelo estudo leram alguns dos depoimentos de forma teatralizada. A crueza dos testemunhos — “Estiveste bem, Deus está orgulhoso de ti. Gostaste, ele perguntava. Eu não sabia o que responder. Se me sentia melhor. Que Deus me amava mais do que qualquer uma ali no colégio. Dizia que eu era especial” — provocou ondas de choque a que a Igreja não pôde ficar indiferente, apesar de ter relativizado as queixas numa fase inicial, o que levou a uma mea culpa posterior de José Ornelas, o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa.
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