Sociedade

A artista Nan Goldin apela a boicote da revista "Artforum" por demitir editor que defendeu a libertação da Palestina e cessar-fogo

Nan Goldin, anos 70, em “All the Beauty and the Bloodshed” de Laura Poitras
Nan Goldin, anos 70, em “All the Beauty and the Bloodshed” de Laura Poitras

Vários artistas internacionais de relevo, como Nan Goldin e Nicole Eisenman, afirmaram que deixarão de trabalhar com a revista de arte contemporânea americana Artforum, após o despedimento do seu principal editor David Velasco, por publicar uma carta aberta a apelar à libertação palestina e ao cessar-fogo

Um dia após a revista americana Artforum ter despedido o seu principal editor, David Velasco, por causa de uma carta aberta que publicou sobre a guerra Israel-Hamas, outro editor demitiu-se e vários artistas proeminentes disseram que boicotariam a publicação a menos que Velasco fosse reintegrado.

De acordo com o “New York Times”, as divisões sobre como discutir o conflito no Médio Oriente desgastaram as relações de anos entre colecionadores e artistas. Na sexta-feira, as artistas Nicole Eisenman e Nan Goldin criticaram o dono da revista por demitir Velasco, que foi seu editor-chefe por seis anos, e que trabalhava nesta revista há 18, e disseram que não trabalhariam mais com a “Artforum”.

“Nunca vivi um período tão assustador”, afirmou Goldin, uma das mais célebres fotógrafas vivas que assinou a carta aberta onde pedia a libertação palestiniana e um cessar-fogo. “As pessoas estão na lista negra. As pessoas estão perdendo seus empregos.”

Quase 50 funcionários e colaboradores da Artforum assinaram uma carta diferente exigindo que Velasco fosse reintegrado, dizendo que a sua demissão “não só traz implicações assustadoras para a independência editorial da ‘Artforum’, mas desafirma a própria missão da revista: fornecer um fórum para múltiplas perspectivas e debate cultural. ”

Sobre isto houve uma reação negativa entre alguns leitores depois de a revista ter publicado uma carta aberta, a 19 de outubro, que inicialmente não mencionava o ataque do Hamas que matou mais de 1400 israelitas.

Uma vaga de cartas dos leitores denunciou os milhares de artistas e trabalhadores culturais, incluindo Velasco, que assinaram a carta. “Apoiamos a libertação palestiniana e apelamos ao fim da matança e dos danos a todos os civis, a um cessar-fogo imediato, à passagem de ajuda humanitária para Gaza e ao fim da cumplicidade dos nossos órgãos de governo em graves violações dos direitos humanos e crimes de guerra. ” podia ler-se na carta.

Os galeristas instaram as pessoas a retirarem os seus nomes da carta, e vários colecionadores pediram ao Wexner Center for the Arts, da Universidade Estatal de Ohio, que encerrasse uma exposição de Jumana Manna, uma artista palestiniana que assinou a carta aberta.

A “Artforum” distanciou-se da dita carta aberta após receber pressão dos anunciantes. Os editores da revista divulgaram posteriormente um comunicado afirmando que a postagem “não era consistente com o processo editorial da Artforum”, acrescentando que foi “amplamente mal interpretada como uma declaração da revista sobre circunstâncias geopolíticas altamente sensíveis e complexas”.

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