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Quem tem medo compra um cão.” Quase metade dos portugueses tem medo que o bacalhau desapareça. “O legado do medo que nos deixou a ditadura não abrange apenas o plano político. Aliás, a diferença com o passado é que o medo continua nos corpos e nos espíritos, mas já não se sente. O Portugal democrático de hoje é ainda uma sociedade de medo” (José Gil em “Portugal — Medo de Existir”, 2007). Entre um provérbio português, um inquérito e as reflexões de um conhecido filósofo nacional, reside uma pergunta: será que o Portugal do século XXI, historicamente no topo dos países com mais perturbações psiquiátricas como a ansiedade, é um dos países com mais medo? Tendencialmente, sim.
A pandemia de covid-19 fez disparar o alerta da saúde mental. A discussão sobre o impacto da ansiedade e da depressão faz agora parte da agenda mediática. A Organização Mundial de Saúde já veio garantir que a doença mais comum no mundo em 2030 será a depressão. A guerra da Ucrânia deixou os portugueses preocupados com a inflação, a subida do preço das casas e os seus próprios rendimentos, como apontam diferentes inquéritos e notícias. O novo episódio sangrento no Médio Oriente é mais um fator de stresse e discórdia no dia a dia. Não esquecer as alterações climáticas, que têm saltado para as manchetes, após uma nova vaga de protestos da geração mais nova, que sofre da chamada “ansiedade climática”. Geração que é das mais afetadas por doenças do foro mental. E o desemprego, o teletrabalho, a inflação, estagnação económica, a ansiedade financeira, um mapa sem fim de preocupações. Muitas delas espalhadas nos dados do “Global Risk Report”, do Fórum Económico Mundial de 2023.
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