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Chuva intensa e ventos fortes: o que esperar da depressão Aline?

Chuva intensa e ventos fortes: o que esperar da depressão Aline?
Horacio Villalobos/Getty

A depressão, batizada Aline pelo IPMA, vai atingir o continente na quinta-feira. É esperada precipitação intensa e vento até 110 quilómetros por hora. Com todos os distritos do continente sob aviso laranja, conheça as respostas a 11 questões sobre o fenómeno meteorológico que se vai abater sobre o país

A depressão Aline chega esta quinta-feira a Portugal continental e terá efeitos mais intensos do que a depressão Babet, que atingiu o país na terça-feira. O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA) colocou todos os distritos do continente sob aviso laranja devido às previsões de vento e chuva intensa e agitação marítima.

1.

Como vai a meteorologia alterar-se a partir desta quarta-feira?

Devido à aproximação de uma superfície frontal fria independente da tempestade Aline, o tempo vai começar a agravar-se a partir do final da tarde de quarta-feira no litoral Norte e Centro, com períodos de aguaceiros, por vezes fortes, e acompanhados de trovoadas. Também se prevê uma intensificação do vento, com rajadas até cerca de 80 quilómetros por hora, nas regiões do litoral e nas terras altas, explicou ao Expresso Jorge Ponte, meteorologista do IPMA.

“Essa superfície frontal fria vai-se deslocando ao longo da noite para sul e os modelos indicam que poderá estacionar algures para o Alentejo e pode persistir alguma precipitação nessa região durante a noite”, afirma o meteorologista.

2.

O que se pode esperar da depressão Aline?

A depressão Aline, que transporta uma massa de ar muito húmido, quente e instável, vai afetar Portugal continental a partir de quinta-feira, com precipitação forte e rajadas de vento intensas. Prevê-se que, a partir das seis da manhã, a precipitação se intensifique em todo o país, podendo existir uma revisão do aviso emitido.

A chuva far-se-á acompanhar de vento forte, em especial nas regiões Centro e Sul, com o núcleo da depressão a atravessar a região situada “algures entre Leiria e Coimbra”. Está previsto que as rajadas de vento possam superar 110 quilómetros por hora, “não se descartando que possa haver algum fenómeno mais extremo de vento localizado”, esclarece Jorge Ponte.

No início da tarde, a depressão deverá deslocar-se para sul, o que irá afetar o Algarve com mais intensidade. Também está prevista alguma agitação marítima, tendo o IPMA já emitido um aviso laranja, com ondas entre cinco e sete metros de altura na costa ocidental, podendo atingir catorze metros, e entre quatro e 4,5 metros na costa sul do Algarve.

3.

A temperatura também vai descer?

Após a passagem da depressão Aline, as temperaturas deverão descer com a substituição do ar quente e húmido da tempestade por uma massa de ar mais frio. Uma descida nos termómetros que se vai registar já na sexta-feira.

4.

O que se esperar do estado do tempo para os próximos dias?

A depressão deverá passar ao longo de quinta-feira, com uma melhoria do estado do tempo gradual, mas ainda com alguns aguaceiros fortes no Norte e Centro, especialmente no litoral, durante a noite e que se irão prolongar até sexta-feira de manhã.

Na sexta-feira, haverá uma “diminuição da intensidade e frequência desses aguaceiros” e o “vento também tenderá a diminuir de intensidade ao longo do dia”. No fim-de-semana, o tempo deverá melhorar, mas poderão continuar a ocorrer alguns aguaceiros.

“A tendência é que [o tempo] continue instável no início da próxima semana, mas é uma tendência, vamos ver como é que os modelos respondem também a esta tempestade, às vezes pequenos detalhes e pequenas diferenças no curto prazo podem fazer uma grande diferença a longo prazo,”, afirma Jorge Ponte.

5.

Porque está a acontecer este fenómeno meteorológico?

A Península Ibérica está a ser atingida por uma forte corrente polar e, em conjunto com a deslocação da massa de ar quente e húmida da depressão Aline, provocam frentes de grandes dimensões que resultam em fenómenos meteorológicos deste género.

6.

A que se deve a intensidade desta depressão?

A depressão Aline é uma depressão secundária de outra que surge mais a norte, ao atravessar Portugal continental fá-lo em fase de cavamento para leste de forma rápida. Ou seja, ao passar isola uma pequena depressão que provoca um cavamento, no qual “a pressão atmosférica no centro vai diminuir e é essa diminuição da pressão que irá causar o vento mais intenso no bordo sul da mesma” descreve o meteorologista do IPMA.

7.

É normal haver depressões nesta altura do ano?

É normal a ocorrência de depressões no outono, mas nem “sempre chegam a Portugal continental com esta intensidade”. Como o núcleo da depressão atravessa o país, terá um maior impacto.

8.

Duas depressões seguidas também é normal?

“Tivemos um período grande de tempo sob a influência de uma crista anticiclónica, trouxe tempo muito quente e agora essa crista anticiclónica foi empurrada para a região do sul da Europa, e está a permitir a passagem de ondulações frontais, de depressões atlânticas”, descreve o meteorologista. Acrescenta que “tendo alterado o regime, é normal que sejamos afetados por uma série de superfícies frontais e com algumas depressões associadas”.

9.

Como nos podemos preparar para enfrentar o temporal?

Jorge Ponte aconselha a população a seguir as indicações da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC). Destaca também o acompanhamento dos avisos meteorológicos do IPMA porque “são situações bastante voláteis, onde há sempre muita incerteza, onde os fenómenos mais intensos e severos irão ocorrer, tanto a nível de vento como de precipitação, e portanto pode haver alterações de última hora”.

Em conferência de imprensa, Miguel Cruz, comandante da ANEPC, informou que serão enviados SMS de alerta à população sobre o agravamento das condições meteorológicas, durante quarta e quinta-feira.

“Relativamente às deslocações, aquelas que for possível evitar deverão ser evitadas amanhã [quinta-feira]. Naturalmente, as questões relacionadas com os aspetos laborais devem ser vistas com as respetivas entidades patronais, caso a caso”, afirmou.

Também houve um alerta para um “especial cuidado na circulação rodoviária” devido à possibilidade de lençóis de água nas vias e da ocorrência de inundações.

"Outro aspeto importante tem a ver com a agitação marítima e, portanto, todas as atividades relacionadas com o mar devem ser evitadas nesta altura, incluindo o estacionamento e o passeio na orla marítima, na medida em que os valores de agitação marítima serão elevados", aconselhou Miguel Cruz.

A Autoridade Marítima Nacional e Marinha também alertou a população para o agravamento do estado do mar, relembrando o reforço da amarração das embarcações atracadas e pedindo para não se praticar pesca lúdica, em especial junto a falésias ou arribas devido à rebentação das ondas.

Verificar as condições de escoamento das linhas de água e nas zonas urbanizadas também é um ponto crucial, por isso, o ANEPC pediu aos serviços municipais para terem especial atenção.

Num comunicado, a Proteção Civil alerta ainda para a fixação adequada de estruturas, como andaimes, placards, etc., assim como um “especial cuidado na circulação e permanência junto de áreas arborizadas, estando atento para a possibilidade de queda de ramos e árvores, em virtude de vento mais forte”.

10.

São esperadas inundações?

A depressão Aline deverá aumentar a “probabilidade de ocorrência quer de inundações quer de quedas de estruturas e ventos”, explica o comandante da ANEPC.

Os incidentes registados na terça-feira poderão repetir-se na quinta-feira “possivelmente com maior quantidade”. Na terça-feira, a ANEPC registou 2060 ocorrências devido à passagem da depressão Babet.

O ANEPC vai ainda subir, a partir das 00h00 de quinta-feira, o nível de prontidão de amarelo para laranja.

11.

Qual o tipo de ocorrências esperadas?

Segundo o comunicado da ANEPC, poderá haver inundações em zonas urbanas devido à obstrução dos sistemas de escoamento, também podem ocorrer “cheias, potenciadas pelo transbordo do leito de alguns cursos de água, rios e ribeiras”.

Deslizamentos ou derrocadas, devido à infiltração da água, “contaminação de fontes de água potável por inertes resultantes de incêndios rurais”, e “arrastamento para as vias rodoviárias de objetos soltos” também são incidentes expectáveis.

Texto de Eunice Parreira editado por João Cândido da Silva

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