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As correntes oceânicas estão a desacelerar com consequências desastrosas para ecossistemas e clima, alerta novo estudo

As correntes oceânicas estão a desacelerar com consequências desastrosas para ecossistemas e clima, alerta novo estudo
Barcroft Media/Getty

Investigadores de universidades australianas alertam para risco de “colapso” das correntes da Antártica

O rápido derretimento no Antártico está a provocar uma desaceleração “dramática” nas correntes oceânicas profundas.

Segundo um novo estudo divulgado na revista científica Nature, estas correntes - essenciais para transportar calor, carbono, oxigénio e nutrientes por todo o globo - encaminhando-se para o “colapso”, com consequências desastrosas para todo o planeta.

"Os nossos modelos mostram que, se as emissões globais de carbono continuarem no ritmo atual, o capotamento da Antártica diminuirá em mais de 40% nos próximos 30 anos – e numa trajetória que parece caminhar para o colapso”, afirma o professor Matthew England, que liderou o estudo, citado pela BBC.

Esta estagnação terá consequências profundas para os ecossistemas marinhos, mas também para o clima. Estudos anteriores já tinham ligado a desaceleração das correntes no Atlântico ao arrefecimento do clima na Europa.

As correntes de capotamento têm permanecido mais ou menos estáveis há vários milhares de anos. Contudo, estão a ser afetadas pelas alterações climáticas, como mostrava um outro estudo divulgado pela mesma revista científica em 2018 que alertado que este sistema de circulação tinha sofrido alterações significativas nos últimos 150 anos.

Mais especificamente, explicam os cientistas, as correntes oceânicas são parcialmente causadas movimento descente da água (salgada, fria e mais densa) junto à Antártica. Anualmente, estima-se que cerca de 250 biliões de toneladas de água gelada afundem junto ao continente gelado do hemisfério sul. Este é compensado por fluxos ascendentes noutras latitudes, num movimento que transporta oxigénio para as águas profundas e nutrientes para a superfície.

Com o derretimento da calota polar, a água está a tornar-se menos salgada e densa. Isto torna o movimento descendente mais lento e põe em causa a circulação de oxigénio e nutrientes, vital para a vida marinha.

Os investigadores alertam também que este fenómeno pode ter um impacto na capacidade de captura de carbono dos oceanos, porque sem circulação, a água à superfície atinge o seu limite de saturação sem ser substituída por água com menor concentração de carbono vinda das profundezas.

Simultaneamente, expõe a calota polar da Antártida a uma maior quantidade de águas mais quentes, acelerando ainda mais o degelo. "A outra implicação maior que poderia ter é um feedback sobre quanto da Antártica derreterá no futuro. Isto abre um caminho para águas mais quentes que podem causar um aumento do derretimento, o que seria um feedback adicional, colocando mais água derretida no oceano e diminuindo a velocidade reduz ainda mais a circulação", explicou à BBC Adele Morrison, uma das investigadoras envolvidas no estudo.

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