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Equipa portuguesa de resgate regressa da Turquia com espírito de "missão cumprida", Portugal disponível para nova missão

Equipa portuguesa de resgate regressa da Turquia com espírito de "missão cumprida", Portugal disponível para nova missão
MARTIN DIVISEK

Portugal está disponível para enviar uma nova missão para apoiar a Turquia, atingida a 6 de fevereiro por um forte sismo, caso seja necessário, disse o ministro da Administração Interna.

A equipa portuguesa destacada para ajudar nas operações de busca e salvamento na Turquia, atingida por dois sismos, chegou este sábado a Lisboa com o espírito de "missão cumprida", porque agora é difícil encontrar alguém com vida debaixo dos escombros. "Foi assim que chegámos ao fim desta missão, com o dever cumprido. A janela da percentagem de sobrevivência está completamente fechada. Se aparece alguém vivo, felizmente essa pessoa teve acesso a água. De outra maneira é impossível sobreviver a uma situação daquelas", disse aos jornalistas o comandante da missão portuguesa, José Guilherme.

A Força Operacional Conjunta (FOCON) - coordenada pela Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (ANEPC) e composta por 52 elementos da Força Especial de Proteção Civil da ANEPC, GNR, Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa e Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e por seis cães -- esteve mais de uma semana na cidade turca de Antáquia, atingida em 06 de fevereiro por dois fortes sismos.

O comandante afirmou que estas missões têm o seu tempo e que "chegou o momento de desligar o interruptor e passar ao passo seguinte", uma vez que estas equipas, como a portuguesa, estão formatadas para a busca e salvamento de vidas. "O trabalho que está a ser feito é a remoção de destroços, que tem de ser o mais rapidamente possível, porque brevemente aquele povo vai ter um problema mais grave que é de saúde pública", precisou.

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História de um salvamento

José Guilherme recordou o salvamento da criança de 10 anos como o momento mais importante da missão. "Durante umas buscas que andávamos a fazer num dos setores na zona baixa de Antáquia, os cães detetaram, ao princípio, também a pedido dos populares, um corpo. A equipa esteve ali um bocado a fazer o reconhecimento até que foi alertada, também por um popular, que supostamente havia uma vítima ali uns metros ao lado. De imediato enviámos a primeira equipa para a primeira avaliação, os cães fizeram a deteção, fizemos o reforço e, a partir daí, desenvolveu-se todo um trabalho de equipa até chegarmos ao pequenino Baran. Naquele momento éramos todos Baran e tínhamos todos 10 anos", recordou.

O comandante sublinhou que "valeu a pena", por terem salvado uma vida, mas também por terem encontrado nos escombros corpos e conseguido entregar alguns às famílias. "Encontrámos alguns corpos e entregámos alguns a famílias. Isso também fez com que a nossa motivação subisse ao ver aquele povo poder fazer o seu luto no meio daquela catástrofe", afirmou.

Jose Guilherme destacou também o trabalho em conjunto feito entre os operacionais e o amigo que encontraram naquela cidade completamente destruída: "Tivemos a sorte de ter uma guia, foi nosso amigo. A nossa equipa passou de 52 para 53, fez toda a diferença", frisou.

O comandante disse também que estas ocorrências e catástrofes "exigem muito esforço, não só físico mas também emocional", e que os elementos da equipa "estão devidamente treinados" e "são profissionais de excelência e de uma disponibilidade impar".

Jose Guilherme acrescentou ainda que a cidade de Antáquia, com cerca de 600 mil habitantes, não tem ninguém a residir em casas, estando todos a morar em campos de desalojados e o que os seus habitantes necessitam neste momento é de roupas, medicamentos e bens alimentares.

Na cerimónia de chegada da equipa portuguesa, no terminal militar de Figo Maduro, em Lisboa, estiveram presentes os ministros da Defesa Nacional, Helena Carreiras, e da Administração Interna, José Luis Carneiro, e os secretários de Estado da Proteção Civil, Patrícia Gaspar, e da Saúde, Ricardo Mestre.

Nova missão, se for preciso

“Se for necessário mobilizar de novo uma nova força, Portugal já manifestou à embaixada a sua disponibilidade”, precisou aos jornalistas José Luís Carneiro. Uma nova missão portuguesa terá de ser enquadrada no mesmo âmbito europeu em que foi a equipa agora regressado. “Se o Mecanismo Europeu de Proteção Civil e o Centro Coordenador de Resposta de Emergência [da União Europeia] assim o entender, Portugal estará disponível para mobilizar uma nova força de apoio para busca e salvamento e, se necessário for, para a própria reconstrução”, sublinhou o ministro.

Questionado sobre o tempo que durou a presença da equipa portuguesa na Turquia, José Luís Carneiro afirmou que “o importante não é o tempo que demoram as missões, mas sim o que significam”, acrescentando que “o facto de ter salvado uma criança com 10 anos demonstra a oportunidade e utilidade”.

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