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Overdoses em Portugal atingem valor mais alto dos últimos 12 anos

Overdoses em Portugal atingem valor mais alto dos últimos 12 anos
Kent Nishimura/Getty Images

Na maioria das overdoses registadas em 2021 foi detetada a presença de cocaína, mas a metadona também teve um peso “atípico”, segundo o Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências elaborado pelo SICAD. O número de utentes em tratamento manteve-se aquém dos valores pré-pandémicos, mas o de apreensões de droga e quantidades confiscadas já supera os níveis registados antes. João Goulão, diretor da entidade, pede um "reforço do investimento" face a "atual contexto de recessão"

As overdoses por consumo de drogas em Portugal aumentaram 45% em 2021, comparativamente ao ano anterior, tendo sido atingido o valor mais alto dos últimos 12 anos. Estes dados constam do Relatório Anual sobre a Situação do País em Matéria de Drogas e Toxicodependências, que foi elaborado pelo SICAD e será apresentado esta terça-feira na Assembleia da República.

Dos 413 óbitos com substâncias ilícitas registados em 2021 pelo Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, 74 foram overdoses, ou seja, 18%. Desde 2009 que não se verificavam tantas overdoses no país, numa evolução que o SICAD considera "preocupante".

Na maioria destas situações foi detetada a presença de cocaína — 51%, o que corresponde, como salienta o relatório, ao valor mais elevado dos últimos 12 anos. Segue-se como substância dominante nas overdoses a metadona (41%, um número descrito como "atípico") e os opiáceos, sobretudo a heroína (39%).

Em mais de 80% das overdoses foi detetada a presença de outras substâncias além das drogas ilícitas, destacando-se em mais de metade dos casos (58%) as benzodiazepinas — que são fármacos utilizados no tratamento das perturbações de ansiedade e alterações do sono, mas também cada vez mais usados de forma ilegal, sendo obtidos no mercado negro — e o álcool (22%).

As outras mortes com presença de drogas (339) também têm vindo a aumentar desde 2016, atingindo em 2021 o valor mais alto desde 2008. Foram atribuídas a morte natural (42%), acidentes (36%), suicídio (13%) e homicídio (3%).

Utentes em tratamento aquém dos valores pré-pandémicos

O número de utentes em tratamento é outro dos aspetos avaliados no relatório do SICAD. Se alguns indicadores nesta área voltaram aos valores registados antes da pandemia — depois da disrupção nos serviços observada em 2020, com a interrupção total de muitos deles — há outros que não. Em 2021, encontravam-se a receber tratamento em ambulatório 23.932 utentes, menos cerca de 6% do que em 2019.

Também o número de utentes que iniciaram esse mesmo tratamento no ano passado (1.698) mantém-se aquém dos valores pré-pandémicos. Só o número de readmitidos (1.538) e de utentes internados em Comunidades Terapêuticas (1.980) se aproximaram dos níveis registados antes da pandemia de covid-19, "indiciando um retomar da atividade normal" destes serviços, sublinha o relatório.

Apreensões de haxixe, heroína e cocaína sobem

As restrições impostas devido à pandemia também afetaram o mercado das drogas em Portugal e noutros países no ano passado. Se, em 2020, se registou uma quebra nas apreensões e quantidades confiscadas de um número significativo de substâncias — devido sobretudo à diminuição da oferta — em 2021 esses valores voltaram a aumentar, ultrapassando, em alguns casos, os níveis pré-pandémicos.

Destacam-se drogas como a cocaína, a heroína e a liamba (canábis herbácea), com um número de apreensões e quantidades confiscadas superior ao registado em 2018 e 2019. As apreensões de haxixe aumentaram 49% entre 2020 e 2021 face aos dois anos anteriores, as de heroína aumentaram 29% e as de cocaína, 28%. No caso da liamba, registou-se, em 2021, um aumento "significativo" das quantidades apreendidas, que atingiram o valor mais elevado dos últimos dez anos.

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