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Abusos na Igreja: comissão reúne com bispos, mas resultados só em janeiro

Abusos na Igreja: comissão reúne com bispos, mas resultados só em janeiro
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Comissão independente que investiga abusos praticados pela Igreja esteve reunida com a Conferência Episcopal para dar nota da evolução dos trabalhos. Resultados do estudo só serão divulgados em meados de janeiro

Não constava da agenda da última reunião do Conselho Permanente da Conferência Episcopal, que decorreu esta segunda-feira, em Fátima, mas em comunicado hoje divulgado pelos bispos portugueses, ficou a saber-se que o encontro contou com a “presença de membros da Comissão Independente e do Grupo de Investigação Histórica sobre os arquivos das dioceses e das congregações religiosas”. O tema dos abusos praticados pela Igreja voltou a estar em cima da mesa da reunião da CEP e os bispos foram informados do “ponto da situação” e sobre “o estado atual do processo de estudo” levado a cabo pela equipa dirigida por Pedro Strecht que, desde janeiro, investiga 80 anos de abusos praticados por responsáveis católicos em Portugal.

Sobre o teor do encontro nada transpareceu, nem da parte dos bispos, nem da parte dos responsáveis da comissão que não quiseram adiantar mais nada sobre o tema. Os atrasos no acesso aos arquivos diocesanos - denunciados pela própria comissão independente - parece não ter comprometido o andamento da investigação, garantindo-se desde já que será cumprido o calendário previsto desde o início dos trabalhos. “A Comissão Independente concluirá o relatório deste estudo em finais de dezembro, prevendo-se a sua divulgação pública para meados de janeiro de 2023”, diz o comunicado da Conferência Episcopal.

Sínodo em discussão

O principal motivo do encontro dos bispos não foi, porém, o acompanhamento dos trabalhos da comissão independente, mas sim a análise do relatório sobre a Igreja em Portugal, redigido por uma comissão nomeada pela CEP e que pretende fazer uma síntese dos vários relatórios produzidos pelas dioceses e movimentos católicos portugueses no âmbito do Sínodo convocado pelo Papa Francisco.

O relatório, que defendia uma Igreja mais transparente e aberta, foi divulgado em agosto e suscitou algumas críticas, nomeadamente da parte de movimentos de jovens. No encontro desta semana, os bispos fazem questão de afirmar que esta síntese “não é um tratado sobre a Igreja no seu todo nem um juízo sobre a Igreja em Portugal” e prometem “continuar o caminho de reflexão e transformação que temos por diante”.

Nunca se referindo diretamente às críticas que vieram a público, nem tão pouco assumindo quaisquer lacunas no trabalho até agora produzido, a CEP deixa, porém, uma mensagem clara de que o processo sinodal está longe de estar concluído e que haverá mais caminho - e mais críticas - pela frente. “É uma atitude de bom-senso escutar aquilo que surge do povo de Deus, nesta primeira etapa de participação, nas suas dimensões negativas, positivas e propositivas, para o caminho a fazer nas etapas seguintes”, sublinha o comunicado.

Algumas das críticas feitas pelas diferentes dioceses, assim como pelos movimentos católicos portugueses, sobre o modo de funcionamento da Igreja podem estar a causar mau estar, mas os bispos assumem o compromisso de levar a tarefa ate ao fim, como defende o Papa. “Os conteúdos do Relatório não foram inventados pela Comissão, mas encontram-se nos documentos das instâncias referidas. É importante ouvi-los, discerni-los, completá-los ou reformulá-los, mas não descartá-los”, avisam.

“Os bispos portugueses terão ocasião de refletir sobre este documento e outras achegas que foram chegando, em atitude de discernimento comum, procurando escutar a voz do Espírito e da Igreja em Portugal, tendo como objetivo a transformação pessoal e comunitária de atitudes, instituições e processos. As dioceses devem continuar igualmente o seu discernimento nesta linha espiritual, fraterna, prática e de conversão”, diz o comunicado da CEP que termina lembrando que o Sínodo termina em outubro de 2023, altura em que o Papa Francisco reunirá em Roma a Assembleia geral do Sínodo dos Bispos com representantes de toda a Igreja.

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