Em 2021, começaram a circular rumores no TikTok sobre um grupo de homens que estaria a preparar-se para instituir o "Dia Internacional da Violação" a 21 de abril daquele ano. O assunto mereceu tanta atenção que rapidamente se tornou viral, multiplicando-se os vídeos, sobretudo no próprio TikTok, a apelar às mulheres para saírem de casa com armas de fogo e tacos de basebol com pregos e arames caso tivessem planos para essa noite. Se algum homem olhasse para elas de forma considerada suspeita, deveria ser atacado, aconselhava-se nesses vídeos.
"O discurso andou muito inflamado nessa altura. Havia mulheres a dar táticas a outras mulheres para bater em homens e eram lançados desafios nesse sentido", conta Ricardo Estrela, gestor da Linha Internet Segura, da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). Dos EUA, onde surgiram os primeiros rumores sobre as alegadas intenções do grupo de homens, o movimento "alarmista" chegou ao Reino Unido e a outros países, incluindo Portugal. "Também tivemos ecos cá", diz o gestor. Mais tarde, viria a perceber-se que tinham sido utilizadores de "fóruns obscuros" a lançar o "boato" e que não havia realmente a intenção de instaurar um "rape day".
Este foi um dos poucos desafios considerados perigosos em que terão participado utilizadores em Portugal, mas o assunto preocupa quem trabalha nesta área. "Se forem gravados por pessoas com uma grande base de seguidores, os vídeos em que são apresentados desafios tornam-se virais e mobilizam muitos utilizadores", explica Ricardo Estrela, referindo que "o próprio algoritmo do TikTok promove esse tipo de conteúdos", recomendando-os aos utilizadores.
João Nuno Faria, psicólogo especialista em comportamentos online, fala numa "matriz de circularidade" em torno dos utilizadores desta rede social. "Na página inicial, são apresentados vídeos de acordo com os gostos e preferências dos indivíduos, mesmo que essas preferências estejam relacionadas com questões do desenvolvimento".
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