Sociedade

A taxa de suicídio nas forças policiais duplica a da população geral (e as armas de serviço são usadas em 83% dos casos)

26 agosto 2022 23:12

Rui Gustavo

Rui Gustavo

Jornalista

marcos borga

Arma pode ser retirada em casos de perturbação psicológica, mas implica perda de €300 no salário. Polícias são considerados “grupo vulnerável” e a taxa de suicídio duplica a da população geral

26 agosto 2022 23:12

Rui Gustavo

Rui Gustavo

Jornalista

Três militares da GNR decidiram este ano pôr fim à vida da mesma forma: um tiro com a arma de serviço. Todos já tinham dado sinais de que não andavam bem, chegaram a ser seguidos por psicólogos da instituição ou externos, mas ainda assim continuavam armados 24 horas por dia. Porquê? “A decisão de tirar a arma a um homem da guarda tem implicações que podem desmoralizá-lo ainda mais”, explica César Nogueira, da Associação de Profissionais da Guarda. “Quem fica sem a arma deixa de poder fazer patrulhamentos ou gratificados e de receber suplementos que podem chegar aos €300 por mês, o que no nosso caso é uma catástrofe”, exemplifica o dirigente sindical.

Este ano, já se mataram cinco polícias da GNR, tantos como a soma de 2020 e 2021. E todos tinham acesso à arma de serviço. O último suicidou-se no quartel, fardado, mas optou por usar uma arma pessoal. O seu caso estava sinalizado e ia a consultas; porém, nada foi feito para o desarmar. Segundo um estudo do Sindicato Independente dos Agentes de Polícia (SIAP), 83% dos polícias que se suicidam usam a arma de serviço. “Uma das razões para continuar a haver uma alta taxa de suicídios nas polícias portuguesas — é uma das maiores da Europa — é o facto de os polícias terem acesso à arma de serviço 24 horas por dia e de, só em casos muito excecionais, esta ser retirada”, diz Miguel Rodrigues, autor do estudo, que apresenta uma solução: “O Ministério da Administração Interna (MAI) deveria criar uma bolsa para que quem não tivesse a arma não ficasse sem os suplementos.”